quarta-feira, 22 de julho de 2009

Sr. Obama

Senhor Obama,
sua responsabilidade é corrigir a injustiça contra os Cinco

José Pertierra
9 de julho de 2009

Palavras do advogado José Pertierra na apresentação deste 9 de julho em Washington da exposição de pinturas de Antonio Guerrero Rodríguez, um dos Cinco cubanos prisioneiros nos Estados Unidos por lutar contra o terrorismo organizado contra Cuba desde Miami. Tony cumpre uma sentença de prisão perpetua mais 10 anos por crimes que não cometeu, e que um júri preconceituoso imputou sem prova alguma.

O dia em que o tribunal o sentenciou a prisão perpetua, mais 10 anos, em uma cela de segurança máxima, Antonio Guerrero explicou à Juíza Lenard por quê Cuba o enviou aos Estados Unidos.

Cuba, meu pequeno país, tem sido atacado, agredido e caluniado, década após década, por uma política cruel, desumana e absurda. Uma verdadeira guerra, voraz e aberta de terrorismo, precursor do horror; de sabotagem, gerador de ruínas; de assassinato, causante de dor, da dor mais profunda, a morte… Onde foram tramados e financiados tão incessantes e impiedosos atos? Em sua grande maioria, no próprio território dos Estados Unidos da América.

Com a tarefa de se infiltrar nos grupos terroristas responsáveis pelo assassinato de mais de 3.400 cubanos durante as últimas quatro décadas, Tony formava parte da equipe de agentes que Cuba enviou a Miami para acumular informação. A equipo não tratou de se infiltrar nas agências governamentais dos Estados Unidos, tampouco obteve qualquer documento classificado. Seu único propósito era reunir as evidências necessárias para que o FBI prendesse os terroristas.

Em junho de 1998, o FBI realizou várias reuniões secretas com oficiais do governo cubano em Havana. Sem revelar como havia obtido as provas, Cuba compartilhou com o FBI 175 páginas de documentos relacionados com 31 ataques e planos terroristas que ocurreram entre 1990 e 1998, mais a rota dos dólares (de New Jersey e Miami) que financiaram esses ataques.

Cuba tambem entregou ao FBI áudio-fitas de 14 conversações comprometedoras do autor intelectual da campanha de terror, Luis Posada Carriles, mais 13 vídeos e áudio-fitas de cúmplices de Posada com detalhes dos crimes. Graças a Tony e a sua equipe em Miami, Cuba pôdo compartilhar com o FBI os nomes, endereços, números de telefones e até os números das chapas dos automóveis dos terroristas.

O FBI agradeceu a Cuba a evidência e prometeu investigar os crimes. A investigação ocurreu, porém o resultado foi surpreendente. Em vez de prender os terroristas, o FBI utilizou a evidência que Cuba lhe deu para prender os Cinco.
Por quê?

Os Estados Unidos haviam treinado e dirigido os terroristas de Miami, que eram uma parte importante da guerra encoberta contra Cuba durante a Guerra Fria. Durante cinquenta anos, o governo dos Estados Unidos os protegeu e mimou emde prendê-los e ajuizá-los.

Miami é sua cidade preferida, cumulada de hostilidade e preconceitos contra Cuba. Não é casualidade que os terroristas gravitam em torno de suas praias. Miami os ampara e os festeja, como se fossem patriotas ou herois. Somente em Miami poderia o governo ganhar um caso contra os Cinco.

A ‘raison d’etre’ para a presença dos Cinco nos Estados Unidos era conseguir evidências para prender e processar Posada Carriles e sua rede terrorista. Ele é o autor intelectual de grande parte do terrorismo contra Cuba. Depois da queda do bloco socialista, a economia cubana ia a pique e se abriu ao turismo em busca de dinheiro vivo.

Para espantar o turismo com destino a Cuba, os inescrupulosos fanáticos de Miami lançaram uma campanha de terror contra a Ilha. Fizeram explodir bombas nos mais luxuosos hoteis e restaurantes de Havana: no Hotel Nacional, no Meliá Cohíba, na Bodeguita del Medio, no Chateau Miramar, no Tropicana e outros.

Em 4 de setembro de 1997, uma dessas bombas matou um jovem italiano chamado Fabio Di Celmo no Hotel Copacabana, em Havana. Um estilhaço de um cinzeiro de vidro cortou-lhe a artéria jugular. O sangue brotou rápida e intensamente da parte esquerda de seu pescoço tendo morrido em poucos minutos.

Um ano depois, Luis Posada Carriles admitiu ao New York Times que havia sido o autor intelectual das bombas que explodiram em Havana. “Esse italiano”, disse à correspondente do jornal, “estava no lugar errado no momento errado, porém eu continuo dormindo como um bebê”.

Quando matou Fábio a sangue frio, Posada já era um fugitivo da justiça. Tinha 73 acusações de homicídio pendentes na Venezuela devido à derrubada de um avião de passageiros em 1976. O sinistro ato terrorista resultou no assassinato dos membros da equipe cubana de esgrima, entre outros passageiros. Viajava também uma menina guianesa de 9 anos chamada Sabrina Paul.

Entretanto, em vez de extraditá-lo a Venezuela, os Estados Unidos ainda protegem Posada e desatendem a solicitação da Venezuela.

Fabiucho, como seus pais o chamavam, era o filho caçula de Giustino e Ora. Tinha somente 22 anos quando foi cruelmente assassinado. Ler e jogar futebol o encantava. Estava loucamente enamorado de Cuba e de seu povo. Faz dois meses conversei com Giustino Di Celmo em Habana. O pai de Fábio tem 90 anos. No restaurante da capital cubana que leva o nome de seu filho, ele me comentou que havia escrito uma carta a Antonio Guerrero, a Tony, da qual copiei estas línhas:

“O primeiro raio de sol dos próximos dias deveria cair sobre a escuridão que cobre a monstruosa injustiça da prisão de vocês.”


Giustino, esses desenhos de Antonio Guerrero são raiozinhos de sol que caem sobre a escuridão que encobre a indiferença monstruosa do governo dos Estados Unidos diante do sofrimento dos Cinco. Cabe-nos convertê-los em relâmpagos de ação.

“A vida só é vida, se existe valor”, disse Tony em um de seus preciosos poemas. Encontremos o valor para assumir as rédeas da luta para libertar os Cinco da injustiça monstruosa de sua prisão.

Recordemos hoje aqui, e repitamos sem descanso, que Tony veio aos Estados Unidos para impedir o crime, não para cometê-lo. Recordemos que o governo dos Estados Unidos virou a justiça ao revés e confina nos cárceres os herois. Recordemos que protege os criminosos, permitindo-lhes que continuem com sua campanha terrorista contra Cuba.

Em 16 de junho, a Corte Suprema rechaçou sem comentários a solicitação de revisar as condenações dos Cinco. O caso está agora nas mãos do Presidente dos Estados Unidos. Com uma canetada o Presidente pode resolvê-lo. Pode comutar as sentenças a tempo-cumprido, para que eles regressem a sua pátria, junto aos seus familiares. O artigo 2º da Constituição dos Estados Unidos outorga ao Presidente o poder de ‘Clemência Executiva’. Esse poder não tem limitações.

A normalização das relações entre Estados Unidos e Cuba não será possíevel, enquanto os Cinco permanecerem injustamente encarcerados e os terroristas vivam livres. Os terroristas têm de estar presos e os anti-terroristas, livres.


Da sua cela em Colorado, Tony escreveu:

“Como a água, pura e clara, Corre em seu arroio serena, há de correr a ternura, Quando aparece uma Pena. . . No há dor que no seja tua. Não há sofrer sem compartir. Há de se ter um orgulho, Saber dar sem receber.”

O Presidente Obama nos diz que não gosta de olhar para o passado, contudo, Sr. Presidente, tem o senhor de compreender que Posada e os outros cubanos de Miami foram as ferramentas de terror que usou o governo de seu país contra Cuba. Por isso, o FBI não os prendeu, e por isso prendeu os Cinco.

Sua responsabilidade é agora retificar essa injustiça. Sua responsabilidade é pôr fim a um bloqueio cuja premissa é causar a fome para que os cubanos se rendam e uma campanha de terror para tratar de dobrar um povo digno: essa é a sórdida história que o senhor herdou de seus predecessores na Casa Branca.
Sr. Presidente, tem de sanar estas feridas abertas. Os Estados Unidos são a nação mais poderosa da história da civilização. Em vez de ser a mais cruel, não deveria ser a mais generosa, a mais humana?

Sr. Presidente Obama, a Guerra Fria acabou. Pelas vítimas do terrorismo, pelo sofrimento que este ilegal e imoral bloqueio vem causando a Cuba, pelo bem de seu país, pelo bem do futuro, sane as feridas: acabe com o bloqueio, extradite a Posada e liberte os Cinco.

José Pertierra é advogado. Representa a República Bolivariana da Venezuela no caso relacionado com a solicitação de extradição de Luis Posada Carriles.