sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Manifesto pelo fim do bloqueio a Cuba

Manifesto pelo fim do bloqueio a Cuba


O "Manifesto pelo Fim do Bloqueio a Cuba e pela Ajuda Humanitária ao país socialista", capitaneado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, está circulando em todo o País, com a intenção de reunir um milhão de assinaturas até 22 de novembro. Segundo informações do Comitê de Defesa da Humanidade - Capítulo Rio de Janeiro, publicado no portal Vermelho, até o momento já foram coletadas 900 mil assinaturas.

O manifesto lembra que o povo cubano foi recentemente vítima de uma seqüência de furacões de força extraordinária, que causou ao país uma enorme devastação. Embora o número de mortos e feridos seja relativamente pequeno, graças a providências prévias de defesa civil que retiraram a população dos locais a serem atingidos, os danos materiais foram devastadores.

"Em breve resumo, 450 mil prédios e casas foram destruídos, deixando centenas de milhares de pessoas em abrigos de emergência. A quase totalidade dos 700 mil hectares plantados com cana foram inundados ou arrasados, com perda da colheita, e 115 usinas de açúcar foram parcialmente destruídas", diz o texto.

Estragaram-se ainda 800 toneladas de folhas de tabaco, perderam-se milhares de toneladas de alimentos estocados, inúmeras instalações produtivas foram danificadas. "Nas condições materiais difíceis em que vive há 50 anos, por força do bloqueio econômico dos Estados Unidos, o povo cubano sofre mais duramente as conseqüências dessa catástrofe natural", finaliza o documento.

Aqueles que quiserem assinar o manifesto, devem enviar sua adesão ao e-mail oscar.niemeyer@cdhrio.com.br informando nome completo, profissão, nacionalidade, País e cidade onde reside. Encabeçam o manifesto: Oscar Niemeyer - Presidente de Honra do Comitê de Defesa da Humanidade - Rede das Redes em Defesa da Humanidade - Capitulo Rio de Janeiro; e Marilia Guimarães - Presidente do Capitulo Rio de Janeiro, brasileira, empresária, Rio de Janeiro, Brasil.

sábado, 15 de novembro de 2008

OPERAÇÃO MILAGRE - A SOLIDARIEDADE CENSURADA

OPERAÇÃO MILAGRE - A SOLIDARIEDADE CENSURADA


Por qual motivo a grande mídia mundial silencia perante o maior programa de solidariedade médica da história, na qual 1.314.000 pessoas de 33 países foram operadas da visão? Chegaram praticamente cegas e voltaram para seus países com boa visão! Esse programa está sendo conduzido pelo governo de Cuba no âmbito da ALBA (Alternativas Bolivariadas para as Américas). Assista ao vídeo clicando na imagem.


quinta-feira, 13 de novembro de 2008

5 heróis: Obama e a herança desonrosa deixada por Clinton

Por Wilkie Delgado Correa *

Obama triunfou sob o signo de mudanças prometidas para o bem de seu país e do mundo. Talvez nenhum outro presidente dos Estados Unidos tenha recebido um legado tão negativo quanto o que George Bush deixará. Porém, por ocasião da transferência de cargo, Obama receberá heranças recentes dos mandatos de Bush e outras, de mais longa data. Uma dessas é a relacionada com a prisão injusta dos 5 Heróis Cubanos, que por mais de dez anos permanecem nas prisões dos Estados Unidos. Essa é uma herança deixada por Clinton, que tem, sem dúvida alguma, uma natureza desonrosa tanto para a política quanto para a ética do governo democrata daquele tempo e também no futuro.

Obama encontra-se diante de uma realidade que atinge a vida de 5 seres humanos excepcionais que continuam injustamente nas prisões estadunidenses. A solidariedade mundial em defesa da causa desses heróis confere-lhe uma transcendência que a opinião pública e nem o governo estadunidense não devem desconhecer. O significado desses 5 heróis para o povo cubano indica que não se trata de um assunto qualquer, mas, ao contrário, é uma causa sensível, um assunto vital que vale à pena levar em consideração e buscar solucionar.

Obama recebe uma herança desonrosa de Clinton porque este deveria ter dado uma solução digna a essa questão, a única que correspondia a um presidente honorável, ao abandonar seu cargo. No entanto, Clinton atuou covardemente, não honrou com seus atos, como devia, para dar a Cuba a única resposta merecida: a liberdade dos cinco cubanos acusados injustamente de ser espiões. Portanto, Clinton lavou as mãos e quase dez anos e meio depois Obama receberá o produto de uma atuação desonrosa e estará chamado, se de mudanças se trata no sistema de justiça, a pronunciar-se e a atuar com honradez.

Bill Clinton já não é presidente dos Estados Unidos e ofereceu, juntamente com Hillary, seu apoio irrestrito a Obama. Seria oportuno que ele se perguntasse por seu gesto tão pouco cavalheiresco em relação aos 5 heróis.

Como é conhecido, Gabriel García Márquez, Gabo, teve que converter-se em um enviado voluntário de Fidel Castro para impor ao presidente W. Clinton dos planos terroristas que eram organizados nos Estados Unidos para ser executados em Cuba e em outros países. Os fatos reais, incluído o próprio informe de García Márquez, foram revelados em sua oportunidade por Fidel Castro à opinião pública internacional. Em um artigo anterior, manifestei que se aquela mensagem de Fidel a Clinton tivesse sido tomada com a devida seriedade e alta visão de estadista, talvez houvesse servido para mudar a política de confrontação dos Estados Unidos contra Cuba; se houvesse sido valorizado em sua essência e integralidade, teria propiciado a ansiada paz nessa parte tão próxima da América, o Prêmio Nobel de Literatura García Márquez, por seu espírito humanista e altruísta, por ser mediador e promotor da paz em um conflito de mais de 45 anos, com justiça teria merecido o Prêmio Nobel da Paz. Porém, um acúmulo de grandes fatores não tornaram factível o esperado, apesar da recepção e acolhida inicial da mensagem, mas que fez com que o cântaro tornasse a cair na fonte. Por isso, esse assunto tem tanta importância como parte da história não contada e inexplicável da vida, das aventuras e desventuras do Gabo e das inconseqüências e desonras de Clinton.

Enfim, é grande o emaranhado que é possível vislumbrar desde um lugar onde somente impere a verdade.

Em que consistiu o impacto emocional, sentimental e ideológico de Clinton ante o conteúdo daquela mensagem transmitida pelo Gabo aos assessores de Segurança Nacional na Casa Branca? Qual foi sua reação ao conhecer o caráter da entrevista de Gabo, com certeza gravada e que o motivou ou decidiu enviar a Havana oficiais de alto escalão do FBI para conhecer em primeira mão o que desejavam informar as autoridades cubanas? Pensou por acaso naqueles dias que poderia aparecer no horizonte um clima melhor nas relações entre os Estados Unidos e Cuba? Que informações lhe chegaram posteriormente quando regressou a delegação do FBI aos Estados Unidos com uma carga volumosa de informações de alta sensibilidade e segurança, entregue em gesto de boa vontade e confiança pelas autoridades cubanas? Por que o FBI, em missão oficial do governo estadunidense, se comprometeu em também enviar informações às autoridades cubanas, porém isso nunca aconteceu? Qual foi a reação anímica do presidente Clinton diante da prisão, em Miami de cinco cubanos, acusados pelo FBI de ser espiões, somente três meses depois da visita da delegação desse organismo a Havana? Quais foram as instruções, as análises, as avaliações de Clinton em todo esse processo de envio de uma delegação a Havana, de compromisso em responder e frear o terrorismo por parte dos Estados Unidos e, logo em seguida, a detenção dos cinco antiterroristas infiltrados em grupos mafiosos e terroristas de Miami, ou seja, os mesmos grupos sobre os quais o FBI havia recebido vasta documentação e provas de todo tipo sobre a natureza e sobre seus planos terroristas? Por que não fez nada durante os últimos meses de seu mandato para fazer valer suas prerrogativas e ordenar a libertação ou repatriação dos cinco cubanos? Por que manteve um silêncio cúmplice sobre um fato que estava intimamente relacionado com aquela mensagem que seu amigo García Márquez pretendeu fazer chegar pessoalmente?

Após tantos anos -mais de dez anos de prisão injusta são muitos anos para cinco homens-, como avaliou Clinton aqueles e esses acontecimentos? Quais foram os medos de Clinton? Não terá pensado Clinton sobre sua responsabilidade moral, após as condenações excessivas, arbitrárias e injustas contra os cinco cubanos? Será que nada significam mais de dez anos de prisão? Nada significa o fato de que eles não mentiram sobre sua permanência nos Estados Unidos e sobre sua missão de vigilância dos grupos terroristas anticubanos?

Enfim, que confissões ou testemunhos pode oferecer o presidente Clinton a Barack Obama sobre esses e outros fatos relacionados com a causa dos 5 heróis cubanos? Sua inação se justificaria porque também era um prisioneiro de seu próprio sistema e não tinha escapatória possível e, portanto, não podia ou não queria rebelar-se? Acaso não serão essas coisas, algumas das que devam mudar nos Estados Unidos durante o mandato de Obama?

Esperemos que Obama não perca o rastro das mudanças em tantos salões e corredores da Casa Branca e em todos os labirintos nos quais se move a vida de um presidente dos Estados Unidos.

Talvez possa honrar com sua atuação digna e com respeito aos 5 heróis cubanos a política desonrosa que sobre esse assunto recebeu como herança de Clinton.

* Doctor en Ciencias Médicas. Pr

Fonte: Adital
Tradução: Adital

terça-feira, 28 de outubro de 2008

O Analfabetismo Econômico

O Analfabetismo Econômico


Chávez falou em Zulia do "camarada Sarkozy", e o disse com certa ironia, mas sem ânimo de feri-lo. Pelo contrário, quis reconhecer sua sinceridade quando, em sua condição de Presidente rotativo da Comunidade de Países Europeus, falou em Beijing.

Ninguém proclamava o que todos os líderes europeus conhecem e não confessam: o sistema financeiro atual não serve e há que mudá-lo. O Presidente venezuelano exclamou com franqueza:

"É impossível refundar o sistema capitalista, seria como um intento de pôr a navegar o Titanic depois que está no fundo do Oceano."

Na reunião da Associação das Nações Européias e Asiáticas, em que participaram 43 países, Sarkozy fez confissões notáveis, segundo as agências de notícias:

“O mundo vai mal, enfrenta uma crise financeira sem precedentes por sua magnitude, rapidez, violência, e suas conseqüências sobre o meio ambiente põem em questão a sobrevivência da humanidade: 900 milhões de pessoas não têm os meios para alimentar-se”.

"Os que participamos desta reunião representamos dois terços da população do planeta e a metade de suas riquezas; a crise financeira começou nos Estados Unidos, mas é mundial e a resposta deve ser mundial."

"O lugar para um menino de 11 anos não é a fábrica, mas a escola."

"Nenhuma região do mundo tem lição que dar a ninguém." Uma clara alusão à política dos Estados Unidos.

Ao final recordou ante as nações da Ásia o passado colonizador da Europa nesse continente.

Se o Granma tivesse escrito essas palavras, diriam que se tratava de um clichê da imprensa oficial comunista.

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, disse em Beijing que não se podia "prever a entidade e duração da crise financeira internacional em curso. Trata-se, nem mais nem menos, da criação de uma nova carta constitutiva das finanças." Nesse mesmo dia foram divulgadas notícias que revelam a incerteza geral desatada.

Na reunião de Beijing, os 43 países da Europa e Ásia acordaram que o FMI deveria jogar um papel importante assistindo aos países gravemente atingidos pela crise, e apoiaram uma cúpula inter-regional em busca da estabilidade a longo prazo e o desenvolvimento da economia do mundo.

O presidente do governo espanhol, Rodríguez Sapatero, declarou que "havia uma crise de responsabilidade em que uns poucos se enriqueceram e a maioria está empobrecendo", que "os mercados não confiam nos mercados". Exortou os países a fugir do protecionismo, convencido de que a competência faria com que os mercados financeiros jogassem seu papel. Não foi oficialmente convidado à cúpula em Washington devido à atitude rancorosa de Bush, que não lhe perdoa a retirada das tropas espanholas do Iraque.

O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, apoiou sua advertência sobre o protecionismo.

O secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, reuniu-se por sua parte com eminentes economistas para tratar de evitar que os países em desenvolvimento sejam as principais vítimas da crise.

Miguel D’Decoto, ex-ministro das Relações Exteriores da Revolução Sandinista e atual presidente da Assembléia Geral da ONU, demandou que o problema da crise financeira não se discutisse no G-20 entre os países mais ricos e um grupo de nações emergentes, mas nas Nações Unidas.

Há disputas sobre o lugar e a reunião onde deve adotar um novo sistema financeiro que ponha fim ao caos e à ausência total de segurança para os povos. Existe grande temor de que os países mais ricos do mundo, reunidos com um grupo reduzido de países emergentes castigados pela crise financeira, aprovem um novo Bretton Woods[1] ignorando o resto do mundo. O presidente Bush declarou ontem que "os países que discutirão aqui no próximo mês a crise global devem também voltar a comprometer-se com os fundamentos do crescimento econômico a longo prazo: negócios livres, livre empresa e livre comércio."

Os bancos emprestavam dezenas de dólares por cada dólar depositado pelos poupadores. Multiplicavam o dinheiro. Respiravam e transpiravam por todos os poros Qualquer contração os conduzia à ruína ou à absorção por outros bancos. Havia que salvá-los, sempre à custa dos contribuintes. Fabricavam enormes fortunas. Seus privilegiados acionistas majoritários podiam pagar qualquer soma por algo.

Shi Jianxun, professor da Universidade de Xangai, declarou em um artigo que publicou na edição exterior do Jornal do Povo que "a crua realidade levou as pessoas, no meio do pânico, a dar-se conta de que os Estados Unidos utilizou a hegemonia do dólar para saquear as riquezas do mundo. Urge mudar o sistema monetário internacional apoiado na posição dominante do dólar."

Com poucas palavras explicou o papel essencial das moedas nas relações econômicas internacionais. Assim vinha ocorrendo há séculos entre a Ásia e a Europa: recordemos que o ópio foi imposto à China como moeda. Disso falei quando escrevi o artigo A vitória da China.

As autoridades deste país nem sequer queriam receber a prata em metálico com que os espanhóis pagavam inicialmente os produtos adquiridos na China, desde a sua colônia nas Filipinas, porque se desvalorizava progressivamente devido à sua abundância no chamado Novo Mundo recém conquistado pela Europa. Os governantes europeus até hoje sentem vergonha pelas coisas que impuseram à China durante séculos.

As atuais dificuldades nas relações de intercâmbio entre esses dois continentes devem ser resolvidas, segundo o critério do economista chinês, com euros, libras, ienes e yuanes. Não resta dúvida de que a regulação razoável entre essas quatro moedas ajudaria o desenvolvimento de relações comerciais justas entre a Europa, Grã-Bretanha, Japão e China.

Estariam incluídos nessa esfera o Japão e a Alemanha - dois países produtores de sofisticados equipamentos de tecnologia avançada tanto para a produção como para os serviços - e o maior motor em potência da economia do mundo, China, com ao cerca de 1,4 bilhão de habitantes e mais de 1,5 trilhão de dólares em suas reservas de divisas conversíveis, que são em sua maioria dólares e bônus do Tesouro dos Estados Unidos. Segue-lhe o Japão com quase as mesmas cifras de reservas em divisas.

Na atual conjuntura, o valor do dólar aumenta devido à posição dominante desta moeda imposta à economia mundial, justamente assinalada e rechaçada pelo professor de Xangai.

Grande número de países do Terceiro Mundo, exportadores de produtos e matérias primas com pouco valor agregado, somos importadores de produtos de consumo chineses, que revistam ter preços razoáveis, e equipamentos do Japão e Alemanha, cada vez mais caros. Mesmo que a China tenha tido cuidados para que o yuan não se supervalorizasse, como demandam sem cessar os ianques para proteger suas indústrias da concorrência chinesa, o valor do yuan se incrementa e o poder aquisitivo de nossas exportações diminui. O preço do níquel, nosso principal produto de exportação, cujo valor alcançou mais de 50 mil dólares a tonelada há pouco, nos últimos dias recuou a 8.500 dólares por tonelada, quer dizer, menos de 20 por cento do preço máximo alcançado. O do cobre caiu a menos de 50 por cento; assim sucessivamente ocorre com o ferro, alumínio, estanho, zinco e todos os minerais indispensáveis para um desenvolvimento sustentado. Os produtos de consumo, como café, cacau, açúcar e outros, a despeito de todo sentido racional e humano, em mais de 40 anos, tiveram os seus preços levemente majorados. Por isso, há pouco tempo, eu adverti que, como conseqüência de uma crise que estava às portas, sofreríamos perdas nos mercados e o poder aquisitivo de nossos produtos se reduziria fortemente. Nestas circunstâncias, os países capitalistas desenvolvidos sabem que suas fábricas e serviços serão afetados, e só a capacidade de consumo de grande parte da humanidade beirando os índices de pobreza, ou por abaixo destes, poderia mantê-los funcionando.

Esse é o grande dilema que expõe a crise financeira e o perigo de que os egoísmos sociais e nacionais prevaleçam por cima dos desejos de muitos políticos e estadistas angustiados ante o fenômeno. Não têm a menor confiança no próprio sistema de que surgiram como homens públicos.

Quando um povo deixa atrás o analfabetismo, sabe ler e escrever, e possui um mínimo indispensável de conhecimentos para viver e produzir honestamente, resta-lhe apenas vencer a pior forma de ignorância em nossa época: o analfabetismo econômico. Só assim poderíamos saber o que está acontecendo no mundo.



Fidel Castro Ruz
Octubre 26 de 2008


[1] Conferência de Bretton Woods: Conferência Monetária e Financeira das Nações Unidas, realizada em julho de 1944, em Bretton Woods, com representantes de 44 países, para planejar a estabilização da economia internacional e das moedas nacionais prejudicadas pela Segunda Guerra Mundial. Os acordos assinados tiveram validade para o conjunto das nações capitalistas lideradas pelos Estados Unidos, resultando na criação do FMI – Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. Nota do traduto

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

CUBA: os desafios de um grande povo “ilhado”

CUBA: os desafios de um grande povo “ilhado”

Por Frei Gilvander Moreira

Chico Buarque, cronista das esperanças políticas do seu tempo, ao falar sobre as suas viagens a Cuba, registrado no terceiro DVD da série retrospectiva de sua obra, ironiza: “antigamente, o passaporte brasileiro dizia: válido para todos os países com exceção de Cuba. Dá vontade de ir, né?”

Até bem pouco tempo, voltar ao Brasil após uma visita a Cuba podia custar alguns aborrecimentos. O próprio Chico Buarque foi protagonista de um fato que acabou virando manchete nos jornais. O jornal “Folha de São Paulo”, no dia 21 de fevereiro de 1978, trouxe a seguinte notícia: “CHICO VOLTA DE HAVANA E É DETIDO. Chico Buarque, sua mulher Marieta Severo, o escritor Antonio Callado e sua mulher Ana Arruda foram detidos ao chegar, na manhã de ontem, em aviões diferentes, no aeroporto do Galeão. Como foi divulgado pela imprensa, Chico Buarque e Callado integraram o júri de um prêmio literário em Havana, Cuba, na semana passada. Como eles, fizeram parte desse júri o jornalista Fernando Morais, também brevemente detido ao chegar em Congonhas, sábado, e o escritor Inácio de Loyola, que presumivelmente ainda não regressou ao País. O Brasil não tem relações diplomáticas com Cuba, mas um advogado ouvido ontem no Rio opinou "não haver nenhum crime em se visitar um país”. A Polícia carioca apreendeu a bagagem dos detidos, e ambos foram avisados de que serão convocados para novos depoimentos.”

Afora os constrangimentos, nem mesmo na época da ditadura militar era crime visitar Cuba. No entanto, falar de Cuba, do socialismo e do grande líder revolucionário Fidel Castro ainda causa muito constrangimento e indignação. A mídia, geralmente, desfila um rosário de preconceitos acerca do regime político cubano e da história da Revolução. Todavia, mesmo correndo o risco de causar constrangimentos e indignação, retornando agora ao Brasil, após passar nove dias em Havana, quero assumir o compromisso e a responsabilidade de compartilhar a experiência de conhecer de perto a resistência e a determinação desse povo que luta contra o capitalismo e contra o imperialismo criminoso dos Estados Unidos da América. Abaixo destaco alguns aspectos presentes no modo de vida em Cuba e que, no meu entendimento, são relevantes para pensarmos no socialismo hoje para uma vida melhor em sociedade. Eis, abaixo, dez pontos que dão um panorama de nove dias em Cuba: primeiras impressões; o impacto já ocorre na chegada; a relação de Cuba com os demais países da América Latina; contra o bloqueio, muita criatividade; exercício do poder em Cuba; sistema de Saúde socialista; telenovelas brasileiras em Cuba; cristãos em Cuba; produção de alimentos e economia cubana.


1) Primeiras impressões

De 19 a 28 de dezembro (de 2006) realizei um sonho de mais de 20 anos: pisar no solo sagrado de Cuba e conviver alguns dias com os cubanos, esse povo heróico que defende ainda nos dias atuais o socialismo, mesmo quando para muitos a única resposta possível para a humanidade é a chamada democracia burguesa e o capitalismo.

Antes de emitir qualquer opinião sobre Cuba acredito ser relevante ter em mente dois aspectos fundamentais: o primeiro, a localização estratégica da ilha que fica a apenas 150 km do maior império da atualidade. Esta é a distância que separa Cuba do estado da Flórida nos Estados Unidos. O segundo aspecto é o fato de o país ter sofrido, e continuar sofrendo, ao longo de sua história, permanentes tentativas de invasão, exatamente em vista de sua posição estratégica na entrada do golfo do México.

Cuba é uma ilha de 110.000 Km2, 20% do estado de Minas Gerais, estreita e comprida, assemelhando-se a um jacaré. Com 11 milhões de habitantes é uma ilha encantada por sua beleza natural e encantadora pelo seu povo. Cristóvão Colombo, ao chegar em Cuba, em 1492, já afirmara: “Esta é a terra mais bela que olhos humanos viram.”

Nos dias atuais, pode-se afirmar que em Cuba, além de vermos coisas que nossos olhos nunca tinham visto antes, vamos sentir uma grande nostalgia diante de tantos objetos antigos que fizeram parte do nosso cotidiano em um tempo em que nossas vidas eram bem mais simples e livres do atual estresse em que vivemos nos dias atuais. Vamos nos deparar com coisas totalmente inusitadas e criativas: táxis em bicicletas, carros remendados com madeira e plásticos, ônibus construídos sobre antigas carretas, chamadas “camelos”. Tudo isso permite àquele povo resistir, com intrepidez e dignidade ao criminoso e diabólico bloqueio estadunidense. Convivem, no mesmo cenário, recursos materiais limitados, tão abundantes nos paises ocidentais, com o que há de mais moderno e avançado na criação humana. Seja nas ciências, nas artes, nos esportes, os cubanos destacam-se sempre.

Ouvi relatos e reflexões que meus ouvidos nunca tinham ouvido. Procurei ouvir mais do que emitir qualquer parecer acerca do modo de vida que surge e que se atualiza desde o triunfo da Revolução em 1959. Aliás, este um fato que gera tanta especulação: as possibilidades de sobrevivência do regime socialista cubano diante da globalização, da pressão capitalista em todos os moldes e, principalmente, após a morte de Fidel.

Com ouvido atento procurei descobrir a beleza daquela grande nação. O tempo todo tinha a sensação de estar na ilha imaginária de Thomas Morus, UTOPIA, na qual o autor, inspirado na República de Platão, pensa uma sociedade ideal em todos os sentidos, solidária, sem propriedade privada, sem violência e com dignidade para todas as pessoas. No entanto, não tenho a pretensão de defender a existência de uma sociedade perfeita. O meu propósito neste ensaio é mostrar que, somando o que há de bom em Cuba, fica um grande saldo em vista das limitações existentes, sobretudo se levarmos em conta que a maioria das carências, impostas ao povo, advém não do regime político socialista e sim do bloqueio da política imperialista dos Estados Unidos, que causa enormes danos à economia cubana.

2) O impacto já ocorre na chegada

Na chegada a Havana, capital de Cuba, já é possível sentir a diferença de se estar em um Estado socialista. Do aeroporto José Marti ao centro da capital há um percurso de aproximadamente 30 quilômetros. Neste trajeto somos presenteados com uma delicada e bem cuidada paisagem, onde não há sequer uma propaganda comercial. Nas ruas de Havana, ocorre o mesmo, nenhum outdoor que estimule o consumo. Só podem ser vistas, e poucas, as propagandas do regime socialista. Lembro-me de algumas: “Neste momento mais de 2 milhões de crianças estão passando fome nas ruas do mundo, nenhuma delas é cubana.” “Pela vida. Não ao bloqueio econômico dos Estados Unidos.” “Che Guevara, teu exemplo é uma luz na nossa marcha socialista.” “Em Cuba, 100% das crianças estão na escola.”

Em 1961, após uma intensa campanha de alfabetização, Cuba foi declarada território livre do analfabetismo. Vimos pelas ruas pessoas simples e trabalhadoras que nos dão a certeza da existência, naquele território, de um povo educado e saudável. Também chama a atenção a enorme diversidade, nas pessoas, nas cores dos carros, no modo de vestir. Pessoas alegres e que falam com muito orgulho do seu país. Determinados mesmo quanto à independência e da opção e luta obstinada pelo socialismo e pela soberania.

Nos quatro canais de TV abertos, todos estatais - há vários outros canais regionais –, não há também propaganda comercial. Só há programas culturais, informativos e esportivos. Poucos são os programas de entretenimento, dentre eles uma novela brasileira, atualmente, “Senhora do Destino”, à qual os cubanos se referem com grande entusiasmo. Gostam muito de telenovelas e radionovelas. Vale até lembrar que se orgulham de terem criado as radionovelas, a primeira que se tornou famosa no Brasil, “O direito de nascer”.

3) A relação de Cuba com os demais países da América Latina

A eleição de Hugo Chaves, na Venezuela, criou novos laços entre os países da América Afrolatíndia e desenvolveu uma outra forma de solidariedade entre as nações do continente. Cuba recebe o petróleo venezuelano em troca do apoio na área da saúde. São milhares de médicos e outros profissionais trabalhando na Venezuela. Milhares de venezuelanos estão indo a Cuba para fazer tratamento de saúde. A excelência cubana na área da saúde também tem ajudado muitos outros países como o Brasil e a Bolívia.

Ao visitar o Museu da Revolução, antiga sede presidencial do ditador Fulgêncio Batista, encontramos um grupo de jovens bolivianos, orgulhosos do governo Evo Morales. Aqueles jovens informaram que, logo após assumir a presidência, Morales enviou 400 jovens para cursar medicina em Cuba. Formados, serão missionários de uma revolução no sistema de saúde boliviano e poderão trabalhar também em outros países, voluntariamente.

Na ELAN – Escola Latina Americana –, criada em 1999, há 4 mil jovens latino-americanos cursando medicina. O estado cubano custeia tudo: além dos professores e da manutenção da universidade, oferece hospedagem, alimentação, livros, cadernos e ainda dá uma ajuda de custo mensal. Os livros usados são devolvidos ao final de cada ano para que outros estudantes possam estudar neles. É interessante registrar: enquanto nos Estados Unidos gastam-se 350 mil dólares para formar um médico, em Cuba 120 mil dólares são suficientes.

Há milhares de estudantes estrangeiros em Cuba, na graduação e na pós-graduação. Só do Brasil são 700 jovens, 70 dos quais são enviados pelo MST para fazer medicina e outros cursos.

4) Contra o bloqueio, muita criatividade

Cuba foi inicialmente uma colônia espanhola. Em 1898 foi ocupada militarmente pelos Estados Unidos. A partir de então, cresceram os negócios dos norte-americanos na ilha que somente em 1902 tornou-se um país independente. O destino de Cuba foi profundamente marcado pela influência norte-americana tanto no plano político, mediante o apoio a partidos ou grupos, quanto no econômico. A beleza caribenha e a localização estratégica atraíram também para o local o lazer e a orgia dos ianques. Também uma chaga que gera um grande incômodo: uma base militar dos Estados Unidos em território cubano, a base de Guantánamo. Essa base militar resultou das negociações para a retirada das tropas americanas na independência.

Após a Revolução em 1959, muitos cubanos migraram para os EUA e por discordar do regime são, ainda nos dias atuais, manipulados e financiados pelo governo estadunidense com o intuito de derrubar o regime liderado por Fidel Castro. Hoje, incluindo os descendentes, há mais de um milhão de cubanos que vivem naquele país. A grande maioria colabora efetivamente para a economia cubana enviando dólares para os parentes que moram na ilha. Uma minoria, conhecida como a máfia cubana de Miami, que perdeu dinheiro e poder após a Revolução de 1959, conspira o tempo inteiro contra a política socialista. Essa pressão de uma minoria cubana interessa à política imperialista dos Estados Unidos que usa de artifícios para isolar o último país de resistência socialista existente no planeta.

Basta ver que quando um estrangeiro chega clandestinamente aos Estados Unidos é imediatamente mandado de volta ao seu país. Os cubanos são a exceção. Para incentivar a saída de Cuba, o governo dos Estados Unidos acolhe como cidadãos os cubanos que chegam ao seu território. Ou seja, os únicos estrangeiros que têm visto de permanência incondicionado nos Estados Unidos são os originários de Cuba.

O bloqueio dos Estado Unidos a Cuba consiste na proibição do comércio dos produtos cubanos nos Estados Unidos e a venda de qualquer produto norte-americano a Cuba. Além é claro da proibição do uso de tecnologia desenvolvida nos Estados Unidos. Não existe relação diplomática e comercial entre os dois países. Isso gera enormes dificuldades à economia cubana devido ao custo do transporte que é acrescido a todos os produtos que vêm de países bem mais distantes, como os países europeus, o Canadá ou China. Cuba tem de pagar sobretaxas para importar produtos norte-americanos de outros países.

Deste modo, a única forma de o governo cubano sobreviver ao bloqueio, é usar de muita criatividade e contar irrestritamente com o apoio de um povo educado e que conhece muito bem a sua história.

Vimos muita criatividade no sistema de transporte cubano: táxis em triciclos, uns motorizados, como os cocotáxis para os turistas, outros movidos somente com a força do pedal por valentes condutores, que levam passageiros a pequenas distâncias. Automóveis que foram sofisticados na década de 1950 e que continuam rodando suntuosos pelas avenidas de Havana. Pequenos automóveis Fiat, parecendo miniaturas dos antigos 147. Carros russos, como o Lada – das décadas de 1970 e 1980. Alguns seminovos em uma grande variedade de tipos e cores. Micro pick-ups com apenas 03 rodas, ônibus antigos tipo jardineira e os “camellos”, carretas com a carroceria transformada em “super-ônibus”, como base para o transporte coletivo dos trabalhadores, quase de graça. Incrível a diversidade de tipos e cores dos meios de transporte em Cuba.

Vimos um grande número de pessoas pegando carona e muitos motoristas oferecendo carona, especialmente nos horários de pico. Depois ficamos sabendo que cerca de 80% dos automóveis são estatais e são orientados a dar carona. Os carros particulares, que são poucos, também cultivam essa prática de dar carona. É muito difícil ver uma pessoa sozinha no veículo. Normalmente andam duas, três ou quatro pessoas no mesmo automóvel, inclusive nos táxis. Percebemos que dar e receber carona é um valor socialista e faz parte da cultura, é o normal. Muita gente vai trabalhar e volta sem ter que pagar pelo transporte. Não existe o menor receio de violência como seria de se esperar no Brasil. Também uma forma bastante inteligente de economizar energia. O petróleo é muito oneroso para o governo cubano.

E desta e de outras maneiras Cuba vai driblando o bloqueio norte-americano.

5) Exercício do poder em Cuba

Conversamos com taxistas, médicos, lixeiros, comerciantes, professoras, psicólogas, agrônomos, advogados. Não vimos nem uma pessoa reclamar de Fidel Castro, nem do socialismo, nem da Revolução cubana. Pelo contrário, ouvimos o reconhecimento e a constatação de que a Revolução deu dignidade para milhares de pessoas em Cuba. Conforme já afirmamos acima, o diabólico bloqueio econômico que o (des)governo dos Estados Unidos impôs a Cuba desde 1961 é identificado pelo povo cubano como o responsável pelas dificuldades enfrentadas em todos os níveis.

Em Havana as praças públicas são realmente públicas. O povo circula à vontade. Não vimos ninguém alertando sobre riscos de roubo e assalto. A população está desarmada. Afirmam que existem armas guardadas em vários locais e que podem ser disponibilizadas à população em caso de invasão dos Estados Unidos. “Aqui não há delinqüentes e nem delinqüência. Aqui temos paz social, fruto da justiça social existente. É muito raro acontecer um assassinato ou um assalto”, diz uma criminóloga cubana. E acrescenta: “Em caso de invasão, cada um dos cubanos sabe onde deve estar imediatamente.”

Perguntamos a várias pessoas: “Como é exercido o poder em Cuba? Fidel manda muito?” Explicaram-me: “A base do exercício do poder em Cuba está nos CDRs – Comitês de Defesa da Revolução. Esses comitês que surgiram para proteger a população das tentativas de golpe, existem em todas as quadras das cidades e também na zona rural. No CDR todas as pessoas da quadra estão cadastradas. Fazem assim um retrato de toda a população. Sabem quantas crianças, quantos idosos e gestantes existem no país, com uma margem de erro insignificante. Há em cada comitê um/a presidente/a, um secretário/a e um vigilante que é o responsável pela saúde, educação das pessoas que moram naquele local. Além do CDR, há o delegado de circunscrição que exerce a função como voluntário, isto é, não recebe salário para desempenhar a função. De três em três meses esse delegado presta contas ao povo. Vinte delegados escolhem um delegado de território.

A organização política cubana inclui também uma Assembléia municipal (poder executivo + legislativo) que cuida de finanças, esporte, educação, saúde, moradia, comércio, transporte, ruas e estradas, comunidades. Existem ainda as Assembléias provinciais (14 províncias).

Da Assembléia Nacional fazem parte 601 deputados. Vale destacar que recebem apenas o necessário para viver. Exercem o mandato de deputado e continuam trabalhando na sua profissão e por isso recebem salário, não pelo fato de serem deputados, mas como padeiros, professores, médicos, ou qualquer outra profissão que exerçam. Em Cuba uma pessoa é reconhecida na sociedade pelo que faz em prol da coletividade e não pelo que consegue angariar para si mesma, como pela capacidade de ganhar dinheiro ou ter sinais externos de riqueza.

Há um Conselho de Ministros com um presidente, que agora é Ricardo Alareni. As grandes decisões nacionais são tomadas na Assembléia Nacional. Fidel Castro é, desde o triunfo da Revolução em 1959, reeleito como deputado. É o primeiro secretário do PCC e comandante das Forças Armadas. Ilude-se quem pensa que Fidel decide tudo sozinho. É claro que ele tem muita influência nas decisões por razões históricas e pela idoneidade moral que adquiriu e conserva.

Conforme vemos, há uma rede de participação que vai dos CDRs até ao Comitê Central da Revolução. Essas pessoas são integrantes do Partido Comunista de Cuba, mas só se ingressa no Partido após verificar com rigor a idoneidade e o interesse da pessoa pelo bem comum.

6) Sistema de Saúde socialista

“Cuba é uma fábrica de médicos”, exclama Mongui, um cubano que se sente embaixador do Brasil em Havana. Na medicina a excelência cubana tem o seguinte objetivo: conquistar os melhores remédios para todos com o custo mais econômico possível e de forma sustentável. O Ministério da saúde, as faculdades de medicina e os médicos incentivam e incluem cada vez mais todos os tipos de medicina alternativos e naturistas – homeopatia, geoterapia, ervas medicinais, massagem. Prioriza-se muito a medicina preventiva que passa necessariamente por uma boa alimentação.

Há 60 mil médicos cubanos trabalhando voluntariamente em missões internacionalistas, em 69 países, contribuindo com o resgate da saúde de milhares de pessoas. Só na Venezuela estão mais de 15 mil.

Na Venezuela, atualmente, existem cerca de 20 mil médicos cubanos alavancando uma revolução no sistema público de saúde. São responsáveis pelo atendimento primário da população, algo parecido com o médico de família. Estão nas favelas e bairros pobres; lá vivem e atendem com competência e dedicação os pobres. Recordo-me de ter ouvido em Caracas, no 6o Fórum Social Mundial, três jovens camelôs dizendo com veemência: "Por mais de 50 anos, os médicos venezuelanos recém formados se recusaram a ir para interior, para os bairros, para a periferia. Só queriam ficar na capital, ganhar dinheiro às custas da dor. Agora, com Hugo Chávez, eles tiveram sua chance de ajudar o povo. Não quiseram. Então foi preciso apelar para a solidariedade. Vieram os médicos de Cuba e estamos tendo acesso à saúde nos lugares mais distantes e pobres". Ainda, em Caracas, em conversa com duas médicas e um médico, ouvimos, entre tantas coisas, o seguinte: “Não viemos aqui para ganhar dinheiro, mas por amor ao próximo. Estudamos medicina para cuidar das pessoas, nunca para ganhar dinheiro. Quando terminamos o curso de medicina em Cuba, fazemos um juramento de cuidar sempre da vida ameaçada em Cuba e em qualquer país do mundo. Quando se é de esquerda, socialista, somos mais cristãos, pensamos mais no próximo. Todo o povo do mundo é meu próximo, é minha família. Somos e devemos nos comportar todos como irmãos. Vivo para servir a sociedade. Aqui na Venezuela, recebemos apenas uma ajuda de custo para pagar metrô, ônibus coletivo e comprar alimentos e alguma coisa mais necessária.” O estipêndio recebido pelos médicos cubanos não chega a um salário mínimo da Venezuela, que é cerca de R$405,00.

Mesmo com as dificuldades internas para a produção de alimentos, em Cuba, todas as crianças de 0 dia a 7 anos de idade e as gestantes têm garantido um litro de leite por dia.

Cuba é administrada considerando todos os cubanos como sendo uma só família. Fidel é o pai de todos e os cubanos são todos irmãos e irmãs. Por isso todos são tratados com igualdade de oportunidades. Há prioridades que devem ser satisfeitas: alimentação, saúde, educação, transporte público, cultura e esporte. As reivindicações pessoais são atendidas, desde que sejam viáveis e no interesse de todos. Por exemplo, só tem computador individual – o que é um “luxo” em Cuba – quem está desenvolvendo um trabalho social relevante e que precisa deste instrumento. Só será permitido comprar celular quando se encontrar um sistema que seja acessível a todos. E estão quase conseguindo.

O povo cubano é um povo sadio. Come-se o necessário para viver, sem exageros. Não vimos sequer uma pessoa obesa. A alimentação é orientada por nutricionistas e contém todos os nutrientes necessários para uma boa saúde.

Norma, uma psicóloga cubana, passou três meses no Rio de Janeiro. Contou-nos que convidada para participar de diversos churrascos e rodízios, estranhou muito diante de tanta fartura de carne e tão pouca fartura na cultura e nas artes. Quando quis ir assistir a um show de Gilberto Gil no Canecão avisaram-lhe que era muito caro. Ela revelou: “Entre comer muito, participar de rodízios, prefiro alimentar meu espírito. O que mais nos alimenta são os bens espirituais: cultura, arte, esporte e trabalho voluntário, tudo isso dentro do espírito revolucionário socialista. A sociedade capitalista enche a barriga das pessoas, mas deixa o espírito vazio .”

Vimos que a agricultura está diretamente associada à saúde. Os alimentos são produzidos de forma orgânica e ecológica. Usa-se muito pouco produtos químicos na agricultura. Está em curso um grande projeto de reflorestamento com árvores nativas e exóticas.

7) Telenovelas brasileiras em Cuba

Em Cuba, a TV veicula uma telenovela por noite. Uma noite, uma telenovela cubana e na noite seguinte, uma telenovela brasileira ou de outro país. Antes da veiculação, uma comissão do setor de relações internacionais analisa a telenovela estrangeira, dá um parecer, corta cenas de sexo, de banalização.

Perguntei a várias pessoas cubanas se já tinham pensado sobre os possíveis efeitos das telenovelas brasileiras sobre o povo cubano. Caridad, psicóloga do setor de relações internacionais da TV cubana me explicou: “A programação dos 4 canais cubanos é basicamente cultural. O povo estava pedindo mais programas de entretenimento. É muito melhor passar uma telenovela latino-americana do que filmes dos Estados Unidos, filmes que geram uma cultura de violência e de consumo. A questão central não é veicular ou não uma novela. A questão é como veicular. Em Cuba as telenovelas são veiculadas sem nenhum comercial, apenas uma por dia. Assim o/a telespectador/a acompanha mentalmente o desenrolar da ficção. No Brasil, são muitas novelas por dia e são envenenadas pela propaganda intermitente, entremeada na novela. Quando o/a telespectador/a começa a raciocinar, interrompe-se a novela e joga uma propaganda. A pessoa deixa de pensar na novela e começa a pensar na propaganda. Esta mistura de novela com propaganda faz um estrago mental em quem está assistindo. Fica como abelha tonta. É impedida de pensar. Resultado: a novela vira tranqüilizante. Além disso, em Cuba o povo é culto e não aceita pacificamente o que é apresentado na telinha. Também não encontra na realidade o luxo espelhado nas telenovelas. Fica só no ficção.”

8) Cristãos em Cuba

Participamos de uma celebração na Igreja Batista, presidida pelo pastor Raul Soares, deputado do PCC – Partido Comunista de Cuba. De origem camponesa, já está no 3o mandato como deputado. É um dos três pastores deputados em Cuba. Além de Raul, há um outro da igreja episcopal e outro presbiteriano. Raul Soares nos disse: “Não há contradição entre ser pastor e ser deputado socialista. Em Cuba 80% das pessoas se declararam religiosas. Acreditam em Deus. Seguimos o testemunho do Concílio Vaticano II, das Comunidades Eclesiais de Base e da Teologia da Libertação. Os pobres nos evangelizam. Em 1959, a Igreja Católica cubana traiu os pobres, a Jesus e a Deus, porque se colocou contra a Reforma Agrária que Fidel Castro estava fazendo. Sou um pastor de esquerda. Espero que Lula não traia os pobres e que faça uma verdadeira reforma agrária no Brasil. Não há saída para a humanidade fora do socialismo. Precisamos melhorar o socialismo. Capitalismo é anti-cristão e anti-humano.”

Conhecemos o Centro Martin Luther King, com sede nas dependências da Igreja Batista. A partir da pedagogia de Paulo Freire, esse centro tem ajudado a construir cerca de 60 casas populares, por ano, em mutirão com a participação ativa dos sem-casa. Esse centro participa de brigadas populares de limpeza de praças públicas em trabalho voluntário.

9) Produção de alimentos

Sentimos como Cuba vive, desde o fim do apoio soviético ao país, um grande desafio para alimentar o seu povo. Todavia, mesmo diante dessa dificuldade, em Cuba, os produtos transgênicos são proibidos. Lá, de fato, as sementes são patrimônio da humanidade. Preserva-se a diversidade das sementes e espécies.

A produção de alimentos, em Cuba, acontece de forma diversificada. Há “granjas”, grandes fazendas do Estado, que produzem cana-de-açúcar, tabaco, arroz e gado. Poucas pessoas, com implementos agrícolas, garantem uma grande produção para o abastecimento de toda a população ou industrializa os seus produtos de exportação, como o açúcar e os famosos charutos e rum cubanos. Há pequenas, médias e grandes CCS – Cooperativas de Crédito e Serviço – que reúnem muitas famílias de pequenos proprietários; são empreendimentos mistos: privado e estatal. O cultivo é feito em sistema de rodízio. Por exemplo, ara-se um pedaço de terra, planta banana (só um pé em cada cova, 1,5 metro entre as fileiras, pois assim produz mais). Após a colheita, ara-se novamente a terra e planta-se uma nova cultura que pode ser mandioca, ou milho, depois feijão, tomate, e assim por diante. Deste modo, é preservada a fertilidade da terra. Há ainda as “fincas”, que são pequenas chácaras, nas quais a agricultura familiar é tocada por uma, duas ou três pessoas. Em Cuba a maior parte da terra rural pertence ao Estado. É muito raro o comércio de terras. O agricultor possui, geralmente, apenas o usufruto da área em que trabalha.

Atualmente o Estado cede terra para usufruto por três anos. Se a pessoa progride, passa a ter direito sobre aquela porção de terra. Se não, a terra é devolvida para o Estado que a repassa para outro.

Todos os trabalhadores, tanto do campo quanto os da cidade, têm todos os direitos trabalhistas respeitados. Aposentadoria aos 60 anos para os homens e 55 para as mulheres, férias mesmo para aqueles que trabalham por conta própria, saúde e educação, licença maternidade de 1 ano para as mães. Em Cuba há apenas 3% de desempregados.

Após a queda do socialismo real, em novembro de 1989, Cuba entrou em um Regime Especial. A agricultura urbana é incentivada e está sendo desenvolvida para melhorar a alimentação do povo da cidade. Lotes vagos, fundo de quintal e pequenos espaços de terra na cidade estão sendo aproveitados na produção da horticultura. Há técnicos agrícolas que orientam o plantio. Sementes são doadas. Fertilizante orgânico e húmus a partir de minhocas chinesas garantem o êxito da produção de verduras.

10) Economia cubana

Em Cuba a economia é estatal. Cada pessoa só pode ter uma casa e os que têm, só podem ter um carro. Existem diversos mecanismos para se impedir a acumulação de riquezas. Com uma economia tão “engessada” diriam os economistas de plantão, Cuba cresceu mais de 12,5% no ano passado.

Em Cuba é proibido enriquecer-se, pois o enriquecimento de uns gerará o empobrecimento de outros. Para garantir esse princípio, uma série de medidas econômica é tomada. Por exemplo, de dois em dois anos, mais ou menos, muda-se moeda para evitar acumulação. Quem juntar dinheiro em casa, ainda que pouco-a-pouco, vendendo artesanato, com táxi, turismo, só poderá trocar pouco dinheiro velho pelo novo. Assim controla e impede a acumulação.

Em 2005, foi proibido o comércio com dólar em Cuba. Agora o turista é obrigado a trocar o dólar para “peso convertible” com uma desvalorização de 20%, isto é, U$1,00 vale 0,80 de peso “convertible”. Este vale 24 “pesos nacionais”, que é a moeda utilizada pelos cubanos. Uma pessoa cubana paga em peso nacional a maioria dos produtos. Um estrangeiro paga em peso “convertible”.

É proibida a existência de classes entre os cubanos. O salário-mínimo está em 225,00 pesos nacionais por mês, piso mínimo para os aposentados. Há acréscimos como prêmio aos melhores funcionários. Uma pessoa não consegue ganhar mais do que 900,00 pesos nacionais por mês, incluindo todos os incentivos e prêmios por mérito. As empresas estatais dão “estímulos”, tais como cesta-básica, direito de fazer um curso especial em Cuba ou no exterior.

Em Cuba as tarifas por serviços públicos são baixíssimas. A tarifa de energia é de 9,00 pesos nacionais (cerca de 35 centavos de real) para 100 quilowatts de energia. Tanto as famílias quanto as empresas pagam o mesmo valor por 100 quilowatts. Não é como em Minas Gerais, onde as famílias pagam de 6 a 10 vezes mais do que o que pagam as empresas e cujas contas dos serviços públicos essenciais sugam grande parcela da renda das pessoas. Paga-se muito pouco também pelo consumo de água e gás de cozinha.

Os cartões de crédito – exceção feita ao American Express e aos emitidos nos Estados Unidos – são aceitos em Cuba, em muitos lugares.

Muitos se perguntam como pode-se viver com tão pouco em Cuba. O incrível é que não há violência no país, pelo rosto vê-se que as pessoas gozam de boa saúde, todos estudam ou só não estuda quem não quer. Quase todos têm trabalho. Não falta alimento nutritivo para ninguém. Só não há luxo e desperdício alimentar. Como a educação e a cultura são prioridades do governo os cubanos pagam muito barato para entrar nos teatros, nos museus, e em todos os locais que custam mais caro para os turistas. Esse pode ser um exemplo a ser seguido aqui no Brasil. Para um brasileiro é muito caro pagar para assistir a um show que os estrangeiros, cheios de dólares acham muito barato no Rio de Janeiro ou para entrar em uma igreja histórica em Ouro Preto. Por isso já cantou Elis Regina que “o Brasil não conhece o Brasil”.

Se olharmos bem, após conhecer Cuba, podemos ver que o Brasil é um país para poucos. Cuba é um país para todos. Uma cubana nos provocou: “O Brasil é um país lindo, mas me dói o coração e me deixa indignada ver os deputados brasileiros aumentarem em quase 100% seus próprios salários, já astronômicos. Isso é uma desumanidade gritante. Não entendo como o povo brasileiro não se levanta contra essa e tantas outras injustiças.”

Assim, volto ao Brasil, cheio da energia boa que transcende Havana. Deixamos em terras cubanas novos amigos, aqueles que tanto como nós admiram Ronaldinho, o futebol brasileiro, o samba e algumas telenovelas brasileiras veiculadas em Cuba. A maioria dos cubanos admira a Teologia da Libertação, frei Betto, Leonardo Boff, as Comunidades Eclesiais de Base – CEBs -, o MST e os Movimentos Populares do Brasil. Isso fortalece os nossos laços de amizade e a vontade de voltar ao país que recebe a todos os brasileiros como irmãos.

Engana-se, vou arriscar um palpite, quem pensa que Cuba esfacela-se após Fidel Castro. A admiração e o respeito que os cubanos tem pelo Grande Comandante, a ponto de o chamarem de “nosso pai”, garantirão a firmeza na marcha socialista mesmo após sua morte. Fidel está internalizado no povo e será muito mais vivo e forte após sua morte. Em Cuba pode-se afirmar, sem sobra de dúvidas, que há 11 milhões de defensores da Revolução. Quem viver verá!

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Intelectuais de 30 países exigem o fim do bloqueio a Cuba

INTELECTUAIS DE 30 PAÍSES EXIGEM O FIM DO BLOQUEIO A CUBA


Mais de mil intelectuais da América Latina, Estados Unidos, Europa e África assinaram em menos de 24 horas o chamamento de solidariedade e exigência do fim do bloqueio norte-americano a Cuba.

A mensagem que circula na internet destaca que Cuba foi assolada dramaticamente por dois poderosos furacões e o povo reclama o fim imediato do bloqueio que, por quase 50 anos, tem sido um cerco imposto pelas sucessivas administrações dos Estados Unidos.

O chamamento de um importante grupo de intelectuais e artistas de Cuba ao mundo converteu-se num site ao qual podem aderir as pessoas interessadas em todo o mundo.

Artistas do Brasil, Argentina, Chile, Venezuela, Itália, França, Grécia, Austrália, Reino Unido, África do Sul, e outros países, até chegar a 30, aderiram ao apelo, entre os quais sobressaem filósofos, atores, romancistas, jornalistas e juristas.

“Apelamos à sensibilidade dos intelectuais do mundo a fim de que exijam o fim imediato do criminoso bloqueio norte-americano e promovam ações de solidariedade e ajuda a Cuba”, expressa o chamamento.

Fórum Social do Mercosul
Frente Ampla


FIDEL CASTRO: A AUTOCRÍTICA DE BUSH

FIDEL CASTRO: A AUTOCRÍTICA DE BUSH


Reflexões do companheiro Fidel


Em um breve discurso de 15 minutos, o Presidente dos Estados Unidos afirmou coisas que ditas por qualquer adversário teriam sido classificadas de atrozes e cínicas calúnias contra o sistema econômico de seu país, que ele chamou de “capitalismo democrático”.

Depois fazer um apelo dramático para que o Congresso lhe alocasse 700 bilhões de dólares adicionais, com o intuito de encarar a crise, entre outras razões, baseou-se nas seguintes causas:

  • Este é um momento extraordinário para a economia dos Estados Unidos.
  • Temos visto situações lamentáveis na economia dos Estados Unidos.
  • O objetivo é preservar a economia do país.
  • Eu assinalei que a economia global continua governada pelas legislações do Século XX e é preciso adaptá-la às finanças do Século XXI.
  • Os bancos limitaram o crédito.
  • Muitos prestamistas aprovaram créditos sem analisar a capacidade de pagamento.
  • Como é que chegamos até aqui? Qual será o futuro financeiro do país?
  • Os economistas assinalam que são problemas acumulados durante mais de uma década.
  • Muitos economistas concordam em que os problemas atuais aconteceram durante muito tempo.
  • Muitos empresários conseguiram créditos para fazer negócios, comprar casas, carros, etc. Houve muitas conseqüências negativas, especialmente no mercado imobiliário.
  • Muitos prestamistas aprovaram créditos sem analisarem a capacidade de pagamento de seus clientes.
  • Muitas pessoas acharam que poderiam pagar suas hipotecas e não foi assim.
  • Tudo isto gerou efeitos além do mercado imobiliário.
  • Os títulos ou valores são vendidos para os investidores em todo o mundo. Muitos acharam que os títulos possuíam valor tangível.
  • Muitas companhias como a Fredie Mac solicitaram muito dinheiro emprestado, pondo em risco o nosso mercado financeiro.
  • Os grandes bancos tinham uma grande quantidade de ativos que não podiam vender.
  • Outros bancos enfrentaram situações semelhantes e o crédito disponível ficou esgotado.
  • Muitos achavam que tinham o aval do Governo Federal, pondo em risco o nosso sistema financeiro.
  • A situação agravou-se ainda mais com a passagem do tempo.
  • Eu acredito firmemente na livre empresa.
  • O declínio imobiliário teve um efeito dominó.
  • Acho que as companhias que tomaram decisões erradas deverão pagar por isso. Em circunstâncias normais eu não teria optado por isso, mas não estamos em circunstâncias normais.
  • O mercado não está funcionando adequadamente. Há uma grande perda da confiança.
  • Os principais peritos do governo concordam em que se não for tomada uma ação imediata isto poderia suscitar pânico no país, mais bancos poderiam ir à falência e teria um efeito negativo nas contas da aposentadoria, incrementar-se-iam os embargos de imóveis e milhões de estadunidenses poderiam perder seus empregos.
  • O país poderia encarar uma recessão longa e dolorosa. Não podemos permitir que isto aconteça.
  • Muitas pessoas se perguntarão como vai funcionar este plano de resgate.
  • Deve agir-se com a maior rapidez possível.
  • O governo alocaria até 700 bilhões para injetar liquidez.
  • O governo tentará que os mercados se normalizem quanto antes.
  • Temos visto como uma companhia pode crescer tanto, que o seu valor pode comprometer todo o sistema financeiro.
  • O governo deve ter licença para vigiar as empresas visando garantir que o seu crescimento não comprometa a economia global.
  • O capitalismo democrático é o melhor sistema desenvolvido.
  • Sei que, por vezes, os estadunidenses ficam desencorajados, mas esta situação é temporária.
  • A história demonstrou que em tempos de necessidade, seus líderes se unem para encarar estas circunstâncias.
  • Amanhã vão reunir-se, na Casa Branca, Obama, McCain e outros líderes do Congresso.
  • Findou suas palavras agradecendo.

Alguns assinalam o fato de que Bush não tirou um minuto os olhos do teleprompter com a testa franzida.

George W. Bush não só confessou ontem essas verdades, senão que lançou outra espécie de Aliança para o Progresso.

O primeiro de todos foi o colossal engano de Punta del Este em 1961, concebido por Kennedy depois da Revolução em Cuba.

O penúltimo, como é conhecido, foi o de Bill Clinton e chamou-se Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), assinada em 1994. Este recebeu o tiro de graça em Mar del Plata no ano 2005.

O mesmo dia da “autocrítica”, Bush lançou a ICPA: Iniciativa para o Caminho para a Prosperidade em América. Aliás, é uma denominação ridícula.

Ao ver a lista dos dez países latino-americanos envolvidos em Nova York com a Iniciativa, pude observar a ausência do Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Equador, Venezuela e Nicarágua, quer dizer, quase todos os da América do Sul e um da América Central, cujo ex-Chanceler, Miguel D’Escoto, sandinista e sacerdote da Teologia da Libertação, preside neste momento a Assembléia Geral das Nações Unidas.

De acordo com a fantasia recorrente de Bush, o projeto sobre o qual falavam as agências de notícias, segundo as palavras do Presidente aos governos dos dez países latino-americanos presentes, “permitirá trabalhar para garantir que os lucros do comércio sejam amplamente compartilhados.”

“Aprofundará as conexões entre os mercados regionais e vai alargar a nossa cooperação em assuntos de desenvolvimento.”

“Convêm-nos continuar abrindo mercados, especialmente em nossa própria vizinhança."

Tais fatos constituem um excelente material de estudo para a batalha ideológica.

Que progresso pode garantir o imperialismo a qualquer país da América Latina com suas armas atômicas, sua indústria armamentista, suas frotas de porta-aviões nucleares escoltados, suas guerras de conquista, o intercâmbio desigual e o saque permanente de outros povos?

Dentro do “capitalismo democrático”, a autocrítica não é uma categoria incluída. De qualquer maneira, não é preciso ser ingratos nem mal-educados: devemos dar graças a Bush por sua genial contribuição à teoria política.

Fidel Castro Ruz


Fonte: Cuba Notícias


terça-feira, 16 de setembro de 2008

Dez anos de Injustiça em Miami

DEZ ANOS DE INJUSTIÇA EM MIAMI


A eleição presidencial dos Estados Unidos vem sendo acompanhada em todo mundo com os maiores espaços midiátcos. Mas nem todos os assuntos estão sendo abordados como deveriam. Há quem crie ilusões de que uma vitória de Barack Obama poderá trazer grandes mudanças no cenário internacional. Pode ser que os setores que ascendam à Casa Branca com a vitória do primeiro candidato afro-americano decidam até tirar o dedo do gatilho, tática preferida de George W. Bush depois do 11 de setembro. Se der McCain, tudo continuará como agora. A vice Sarah Palin, fazendo o gênero durona, repetirá o refrão de que a guerra é uma "missão divina" dos EUA ou que é possível uma guerra com a Rússia.

Mas um tema está bem distante das discussões e diz respeito às relações Estados Unidos/Cuba. A própria opinião pública estadunidense praticamente ignora o tema, que para sair na imprensa só mesmo como matéria paga.

Para se ter uma idéia, nesta sexta-feira passada, 12 de setembro, fez dez anos de uma das maiores injustiças jurídicas que se tem notícia nos últimos tempos. Estão presos, desde setembro de 1998 nos Estados Unidos, cinco cubanos condenados pela (in)Justiça de Miami a sentenças que variam entre prisão perpétua, 15 e 20 anos de detenção.

É uma história longa e envolve questões que o presidente Bush e agora o seu candidato preferencial falam a toda hora, ou seja, terrorismo. E quais os "crimes" que Gerardo Hernández Nordelo, Ramón Labañino Salazar, Antonio Guerrero, René González e Fernando González cometeram? Absolutamente nenhum. Os cinco foram acusados de serem espiões, quando na verdade nunca cometeram tal delito. Eles simplesmente encontravam-se nos Estados Unidos, de olho em grupos de exilados cubanos que vivem em Miami e praticam terrorismo na pura acepção da palavra. Não é de hoje que, de dentro de alguns grupos da comunidade cubano-americana de Miami, planejam-se atentados que têm por objetivo a derrubada do regime vigente na ilha caribenha. A história está plena de registros nesse sentido nos quase 50 anos. Segundo cifras que constam em documentos oficiais estadunidenses, atentados terroristas promovidos por grupos de extrema direita de Miami contra Cuba mataram 3.478 cubanos e 2.099 ficaram inválidos.

História longa e cheia de meandros - A história dos cinco presos cubanos na Flórida é longa e cheia de meandros. Em junho de 1998, portanto, em pleno mandato de Bill Clinton, o governo de Cuba entregou ao FBI uma farta documentação, mostrando com evidências as atividades terroristas planejadas por grupos anticastristas. Quase três meses depois, em 12 de setembro, as autoridades estadunidenses em vez de desativarem esses grupos, decidiram prender os cinco cubanos.

Os "criminosos" foram julgados por um suspeito Tribunal de Miami, saindo a absurda sentença. Na verdade, ocorreu um julgamento entre aspas, de cartas marcadas. Foram vistas no recinto do Tribunal figuras notórias do terror anticastrista. Agora, os advogados dos cinco cubanos estão tentando realizar um novo julgamento em um Tribunal de outro Estado, longe das pressões diretas da extrema-direita cubana de Miami, para que se faça justiça na verdadeira acepção da palavra. Um Tribunal de Atlanta, onde os advogados ingressaram com uma apelação confirmou a sentença, mas agora resta o remédio de apelar à Corte Suprema dos Estados Unidos. Na passagem dos 10 anos de prisão dos cinco foi lançada uma campanha mundial para que façam justiça e sejam libertados.

Em tempo de combate ao terrorismo, a bandeira de Bush e agora de McCain-Pallin, o silêncio em torno da questão dá bem uma idéia de como é absolutamente contraditória (será redundância em se tratando de Bush?) a política dos EUA, neste campo. George W. Bush e os seus falcões fazem discursos diários alertando sobre as mazelas do terrorismo, mas aceitam como fato consumado a injustiça contra os cinco cubanos que agiam apenas com o objetivo de evitar mortes e destruição.

Qualquer questionamento da injustiça cometida é respondido raivosamente pela comunidade cubano-estadunidense. Os candidatos acompanham o refrão e até preferem que o tema seja mantido longe da pauta das discussões.

Como se tudo isso não bastasse, os Estados Unidos não concedem vistos a familiares dos presos políticos cubanos, mas permitem que na Flórida circule na maior tranqüilidade o notório terrorista, Posadas Carriles, um dos responsáveis pelo atentado, em 1976, contra um avião comercial da Cubana de Aviação, nos céus da Venezuela, que resultou na morte de dezenas de jovens atletas cubanos que voltavam de uma competição desportiva em Barbados. Os Estados Unidos se negaram a atender a pedido da Venezuela em deportar Carriles, que com a ajuda da CIA, tinha fugido de uma prisão venezuelana, onde cumpria pena nos anos 80.

Se nos Estados Unidos a opinião pública não é praticamente informada sobre uma questão tão relevante como a prisão injusta dos cinco presos políticos cubanos, que dirá nos países onde a mídia conservadora é absolutamente majoritária.

Em tempo: até os postes de La Paz sabiam que o embaixador dos Estados Unidos na Bolívia, Philip Goldberg, foi nomeado para o cargo com o objetivo de ajudar os separatistas, como já fez na antiga Iugoslávia no final dos anos 90. Na Bolívia, Goldberg se intrometia em questões internas dando apoio a grupos de extrema direita da chamada meia-lua. Portanto, a expulsão ordenada por Evo Morales, ao contrário do que disse o governo Bush, não foi um "ato de desespero", mas uma medida de profilaxia. Na Venezuela, o embaixador estadunidense Patrick Duddy não agia diferente. Por isso, e por solidariedade a Morales, Hugo Chávez mandou também embora o representante de Bush.

Fonte: Direto da Redação

Comentário Caia Fittipaldi

Muito bem lembrados, aqui, os cinco cubanos que permanecem presos em Miami, acusados de espionagem.

Semana passada fui a uma reunião do Comitê Paulista de Apoio a "Los cinco héroes", como os cubanos os chamam -- e nunca o esquecem.

São: Antonio Guerrero, Gerardo Hernández Nordelo, Fernando González, Ramón Labañino Salazar e René González.

Em São Paulo, o Comitê de Apoio aos Cinco Heróis -- que, sim, já estão presos há dez anos -- é coordenado por Max Altmann (PT) e Lilian Vaz (PCdoB) e é muito ativo. Há comitês em todo o mundo.

Na reunião da semana passada, cada pessoa presente ficou encarregada de distribuir o endereço para correspondência (terrestre) para um dos cubanos presos em Miami.

Essa ação -- mandar cartas por correio -- tem sido implementada sem parar, há anos. Visa a manter a prisão sob MONTANHAS de cartas, milhões. É ação guerrilheira e útil, e ajuda os prisioneiros a saberem que não estão sozinhos.

Os que queiram participar, podem escrever para qquer dos nomes acima -- e para todos, se quiserem, mas cartas individuais, uma para cada um, endereçadas para

Antonio Guerrero/Gerardo Hernández Nordelo/Fernando González/Ramón Labañino Salazar/René González.
US Prison FLORENCE
PO box 7000
Florence, CO, 81226
USA

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

CAMARADAS E COMPANHEIROS!

CAMARADAS E COMPANHEIROS!



Para ninguém esquecer:
Amanhã, quinta dia 11, às 19:30, no Bar Canto Madalena, Rua Medeiros de Albuquerque, 471
Lançamento da Jornada Internacional de 2008 pela Libertação dos 5 Patriotas.

Estamos todos doídos com o sofrimento do Povo Cubano pela passagem de 2 furacões devastadores!!!!
E justamente por isso, nossos esforços pela libertação dos 5 devem ser ainda maiores!!!!

Saludos Rebeldes
Lilian Vaz
izquierda.unida.br@gmail.com
lilian.vaz.iu@gmail.com
11 8181-1760

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

CONVOCAÇÃO GERAL - LANÇAMENTO DA CAMPANHA DE 2008 PELA LIBERTAÇÃO DOS 5 PATRIOTAS

CONVOCAÇÃO GERAL - LANÇAMENTO DA CAMPANHA DE 2008 PELA LIBERTAÇÃO DOS 5 PATRIOTAS


Camaradas e Companheiros de Luta,

A Corte de Apelações de Atlanta denegou neste 2 de setembro de 2008 as solicitações de reconsideração que os advogados de defesa haviam apresentado a respeito de nossos 5 companheiros presos nos Estados Unidos.

Isto significa que se ratifica e entra em vigor a decisão adotada em 4 de junho passado pelo painel de 3 juízes. Por conseguinte, ficam ratificados os veredictos de culpabilidade dos 5. Ficam confirmadas as sentenças contra Gerardo (duas prisões perpétuas mais 15 anos) e René (15 anos). A juíza Joan Lenard, da Corte de Miami, pode a partir de agora iniciar o processo para exarar novas sentenças a Ramón, Antonio e Fernando.

Com esta decisão a defesa tem um prazo até 1º de dezembro de 2008 para solicitar ao Supremo Tribunal dos Estados Unidos que aceite rever o caso.

Agora, mais do que nunca, resulta imperativo redobrar ao máximo a Jornada Internacional e todas as ações de apoio que seja possível realizar.

Não deixaremos um dia sequer de exigir Justiça e Liberdade. Estamos indignados.

Comitê Brasileiro pela Libertação dos 5 Patriotas


LANÇAMENTO MUNDIAL DA CAMPANHA DE 2008
PELA LIBERTAÇÃO DOS 5 PATRIOTAS
PROGRAMAÇÃO - CIDADE DE SÃO PAULO


07 DE SETEMBRO - DOMINGO - CONCENTRAÇÃO PRAÇA DA SÉ ÀS 9H
MARCHA DO "GRITO DOS EXCLUÍDOS"
Concentração na Praça da Sé às 9h da manhã, com missa na Catedral da Sé. Em seguida, Marcha da Praça da Sé até o Museu do Ipiranga,
com participação de diversas entidades solidárias a Cuba e a causa dos 5 Patriotas Cubanos presos injustamente há 10 anos nos Estados Unidos.
Na chegada ao Museu do Ipiranga acontecerá Ato Político, com participação do Comitê dos 5 Patriotas.
Será lido Manifesto escrito pelo Presidente do Comitê Max Altman e fala de Marcelo Buzetto sobre o tema.
A marcha contará com participantes do Comitê dos 5 patriotas com faixa sobre os 5 Patriotas e distribuição dos folders informativos, produzidos pela CUT.
Nós, solidários a causa dos 5 Patriotas, precisamos comparecer em massa, para ajudar na distribuição dos folders,
e principalmente, fazer um trabalho de esclarecimento sobre o assunto, que é totalmente desconhecido para a maior parte das pessoas.


11 DE SETEMBRO - QUINTA FEIRA ÀS 19:30H - ATO POLÍTICO - BAR CANTO MADALENA
LANÇAMENTO MUNDIAL DA CAMPANHA PELA LIBERTAÇÃO DOS 5 PATRIOTAS
O Lançamento Mundial da Campanha pela Libertação dos 5 Patriotas, Ato político com Mostra de Fotografias sobre Cuba, apresentação de dvd e distribuição de folders.
Local Bar Canto Madalena
Convidados especiais: João Felício SRI-CUT, Marcelo Buzetto - MST, Consules de Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador e demais países da América Latina.
Também são nossos convidados especiais, Elza Lobo, Aton Fon, Maria Sirley, Jamil Murad, Prof. Gusmão, Clara Charf, Lúcio Lisboa, Beto Custódio, Emir Sader, e outros.
A fala principal será feita pelo Presidente do Comitê dos 5 Patriotas, Max Altman. Falas também de Valter Pomar e Altamiro Borges.
Será um Ato simples, mas muito importante!!!


12 DE SETEMBRO - SEXTA FEIRA - DIVULGAÇÃO PARA IMPRENSA E OUTRAS MÍDIAS
DO LANÇAMENTO MUNDIAL DA CAMPANHA PELA LIBERTAÇÃO DOS 5 PATRIOTAS
PUBLICAÇÃO, PELAS DIVERSAS MÍDIAS SOLIDÁRIAS, DO MANIFESTO ESCRITO PELO PRESIDENTE DO COMITÊ DOS 5 PATRIOTAS,
MAX ALTMAN, "O MUNDO PEDE JUSTIÇA! LIBERDADE PARA OS 5 PATRIOTAS CUBANOS"


13 DE SETEMBRO - SÁBADO - REVELANDO SÃO PAULO - PARQUE DA ÁGUA BRANCA
Revelando São Paulo, no Parque da Água Branca, com presença do Comitê pela Libertação dos 5 Patriotas, em uma Barraca com materias sobre os 5 patriotas,
cartilhas, folders, dvds, etc...


Lilian Vaz
izquierda.unida.br@gmail.com
lilian.vaz.iu@gmail.com
11 8181-1760 / 11 3891-0372

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Reflexões do companheiro Fidel

Reflexões do companheiro Fidel
Carne para canhão para o mercado


Talvez alguns governos desconheçam os dados concretos, por isso, consideramos muito oportuno a mensagem de Raúl indicando a posição de Cuba. Abordarei aspectos que não podem ser tratados em uma declaração oficial, precisa e breve.


O governo da Geórgia não teria lançado jamais suas forças armadas contra a capital da República Autônoma de Ossétia do Sul ao amanhecer do dia 8 de agosto para o que chamou de restabelecimento da ordem constitucional, sem a prévia concertação com Bush, quem o passado mês de abril em Bucareste comprometeu o seu apóio ao presidente Saakashvili para o ingresso de Geórgia na NATO, o que equivale a um punhal com gume que se tenta cravar no coração da Rússia. Muitos Estados europeus membros dessa organização militar se preocupam seriamente pela manipulação irresponsável do tema das nacionalidades, cheio de potenciais conflitos, que na própria Grã Bretanha poderia levar à desintegração do Reino Unido. A Iugoslávia foi dissolvida através desta via; os esforços de Tito por evitá-lo foram inúteis após a sua morte.

Por que era preciso acender o paiol do Cáucaso? Quantas vezes irá o cântaro à fonte antes de deixar a asa? A Rússia continua sendo uma poderosa potência nuclear. Tem milhares de armas desse tipo. Devo lembrar que, por outro lado, a economia de Ocidente extraiu ilegalmente desse país mais de 500 bilhões de dólares. Se a Rússia não é mais hoje o fantasma do comunismo; se já não apontam direitamente para os alvos militares e estratégicos da Europa mais de 400 plataformas nucleares que foram desmanteladas após o desaparecimento da URSS, por que insistir em cercá-la com um escudo nuclear? O velho continente também precisa de paz.

As tropas russas que se encontravam na Ossétia do Sul estavam deslocadas em uma missão de paz internacionalmente reconhecida; não disparavam contra ninguém.

Por que a Geórgia escolheu o dia 8 de agosto, quando eram inaugurados os Jogos Olímpicos de Pequim para ocupar Tsjinvali, a capital da república autônoma? Esse dia, 4 bilhões de pessoas em todo o mundo assistiram pela televisão ao maravilhoso espetáculo com o qual a China inaugurou esses jogos. Só o povo dos Estados Unidos não pôde assistir nesse dia a transmissão direita e ao vivo da estimulante festa de amizade de todos os povos do mundo que foi realizada lá. O monopólio sobre os direitos de transmissão foi adquirido por um canal televisivo mediante o pagamento de 900 milhões de dólares e desejava obter o maior lucro comercial por minuto de transmissão. As empresas de concorrência fizeram revanche divulgando nessa hora notícias da guerra no Cáucaso que não eram exclusivas de ninguém. Os riscos de um conflito sério ameaçavam o mundo.

Bush se pôde desfrutar do espetáculo como convidado oficial. Mesmo, no domingo dia 10, dois dias e meio mais tarde, era visto agitando bandeiras, fingindo ser o paladino da paz e pronto para se deleitar com as vitórias dos magníficos atletas norte-americanos, que eram vistos por seus olhos, acostumados a manchá-lo tudo, como símbolo do poder e da supremacia de seu império. Em seus momentos de lazer, mantinha conversas prolongadas com os funcionários subordinados em Washington, ameaçava Rússia e encorajava os discursos, humilhantes para esse país, do representante dos Estados Unidos no Conselho da Segurança das Nações Unidas.

Alguns dos antigos países que faziam parte do campo socialista ou da própria URSS, hoje atuam como protetorados dos Estados Unidos. Seus governos, impulsionados por um ódio irresponsável contra a Rússia, como é o caso da Polônia e da República Tcheca, assumem posições de apoio total a Bush e ao ataque inesperado contra Ossétia do Sul por Saakashvili, um aventureiro de estranha historia, quem nasceu sob o socialismo em Tbilisi, capital de seu país, formou-se como advogado numa universidade de Kiev, freqüentou cursos de pós-graduação em Estrasburgo, Nova York e Washington. Exercia essa profissão em Nova York. Caracteriza-se por ser um georgiano ocidentalizado, ambicioso e oportunista. Regressou a seu país apoiado pelos ianques e pescou no rio revolto da desintegração da União Soviética. É eleito Presidente da Geórgia em janeiro de 2004.

Depois dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, o seu país é o que mais soldados tem na aventura bélica do Iraque, e não o faz precisamente por espírito internacionalista. Quando Cuba, ao longo de quase dois decênios, enviou centenas de milhares de combatentes a lutar em favor da independência e contra o colonialismo e a apartheid na África, jamais procurou combustível, matérias-primas nem mais-valia; eram voluntários. Dessa maneira foi forjado o aço de nossos princípios. O que é que fazem no Iraque os soldados georgianos senão apoiar uma guerra que tem custado a esse povo centenas de milhares de vidas e milhões de danificados? Quais os ideais que foram defender nesse país? É lógico demais que cidadãos de Ossétia do Sul não desejem ser enviados como soldados a combater no Iraque ou noutros pontos do planeta ao serviço do imperialismo.

Saakashvili jamais teria se lançado por decisão própria à aventura de enviar o exército georgiano a Ossétia do Sul, onde teria de enfrentar as tropas russas que se encontram ali como forças de paz. Não se pode brincar com a guerra nuclear nem premiar o fornecimento ao mercado de carne para canhão.

Esta reflexão já estava redigida quando Bush falou às 17h30, hora de Cuba. Nada desdiz aquilo que é analisado nesta reflexão; só que hoje a guerra midiática do governo dos Estados Unidos é ainda mais intensa. É a mesma manobra pré-desenhada que não engana ninguém.

Os russos declararam com absoluta clareza que a retirada dos invasores ao ponto de partida é a única solução decorosa possível. Tomara que os Jogos Olímpicos possam continuar sem serem interrompidos por uma gravíssima crise. O partido de vôlei feminino contra uma boa equipe dos Estados Unidos foi fenomenal, e ainda não começou o beisebol.

Fidel Castro Ruz



sexta-feira, 11 de julho de 2008

O Descanso

O DESCANSO


Reflexões do companheiro Fidel

Ontem terça-feira tinha um acúmulo de telexes com notícias sobre a reunião no Japão das potências mais industrializadas. Deixarei o material para um outro dia, se não virar fiambre. Decidi descansar. Preferi me reunir com o Gabo e sua esposa, Mercedes Barcha, que estão de visita em Cuba até ao dia 11. Quanta vontade tinha de intercambiar com eles para rememorar quase 50 anos de uma amizade sincera!


Nossa agência de notícias, sugerida pelo Che, acabava de nascer, e contratou, entre outros, os serviços de um modesto jornalista de origem colombiana, chamado Gabriel García Márquez. Nem Imprensa Latina nem o Gabo podiam supor que tinha um Nobel pelo meio; ou talvez ele sim, com a “descomunal” imaginação do filho do telegrafista no correio de um pequeno povoado da Colômbia, perdido entre os latifúndios bananeiros de uma empresa ianque. Partilhava sua sorte com um monte de irmãos, como era costume, e apesar disso seu pai, um colombiano que desfrutava do privilégio de ter emprego graças ao teclado telegráfico, pôde enviá-lo a estudar.

Eu vivi uma experiência ao invés. O correio com seu teclado telegráfico e a escolinha pública de Birán eram as únicas instalações naquele casario que não constituíam uma propriedade do meu pai; todos os outros bens e serviços de valor econômico eram de Dom Ángel, e por isso pude estudar. Nunca tive o privilégio de conhecer Aracataca, o pequeno povoado onde nasceu o Gabo, embora sim o de celebrar com ele meu 70 aniversário em Birán, aonde o convidei.

Foi igualmente obra da casualidade que, quando por iniciativa nossa se organizava em Colômbia um Congresso Latino-americano de Estudantes, a capital desse país fosse sede da reunião de Estados latino-americanos para criar a OEA, seguindo pautas dos Estados Unidos da América, no ano 1948.

Tive a honra de ser apresentado a Gaitán pelos estudantes universitários colombianos. Ele nos apoiou e nos entregou folhetos do que foi conhecido como a Oração da Paz, discurso proferido por ocasião da Marcha do Silêncio, a multitudinária e impressionante manifestação que desfilou por Bogotá, em protesto contra os massacres de camponeses feitos pela oligarquia colombiana. O Gabo estava naquela marcha.

Germán Sánchez, o atual embaixador cubano na Venezuela, transcreve em seu livro Transparência de Emmanuel, parágrafos textuais do que narrou o Gabo a respeito daquele episódio.

Até aqui a casualidade.

Nossa amizade foi fruto de uma relação cultivada durante muitos anos em que o número de conversações, sempre para mim amenas, somou centenas. Falar com García Márquez e Mercedes sempre que vinham a Cuba —e era mais de uma vez por ano— convertia-se numa receita contra as fortes tensões em que de forma inconsciente, mas constante, vivia um dirigente revolucionário cubano.

Na própria Colômbia, por ocasião da IV Reunido de Cúpula Ibero-americana, os anfitriões organizaram um passeio de carruagem pelo recinto amuralhado de Cartagena, uma sorte de Havana Velha, relíquia histórica protegida. Os companheiros da Segurança cubana me tinham dito que não era conveniente participar do passeio programado. Pensei que se tratava de uma preocupação excessiva, visto que por demasiada compartimentação os que me informaram desconheciam dados concretos. Eu sempre respeitei sua profissionalidade e cooperei com eles.

Chamei o Gabo, que estava por perto, e lhe disse brincando: “Vem conosco nesta carruagem para que não nos disparem!” E assim o fez. A Mercedes, que ficou no ponto de partida, acrescentei-lhe no mesmo tom: “Você será a viúva mais jovem.” Não se esquece disso! O cavalo partiu coxeando com sua pesada carga. Os cascos escorregavam no pavimento.

Depois soube que ali aconteceu a mesma coisa que quando em Santiago do Chile uma câmara de televisão que continha uma arma automática apontou para mim em uma entrevista de imprensa, e o mercenário que a operava não se atreveu a disparar. Em Cartagena estavam com fuzis telescópicos e armas automáticas emboscados em um ponto do recinto amuralhado, e mais uma vez tremeram os que deviam apertar o gatilho. O pretexto foi que a cabeça do Gabo se interpunha obstruindo a visão.

Ontem, durante nossa conversação, rememorei e lhes perguntei a ele a e Mercedes —campeã olímpica dos dados— sobre um monte de temas vividos dentro e fora de Cuba em que estivemos presentes. A Fundação do Novo Cinema Latino-americano, criada por Cuba e presidida por García Márquez, localizada na antiga fazenda Santa Bárbara —histórica pelo positivo e negativo de seus antecedentes no primeiro terço do século passado—, e a Escola do Novo Cinema Latino-americano que dirige essa Fundação, e está localizada nas proximidades de San Antonio de los Baños, ocuparam um espaço do nosso encontro.

Birri, com sua longa barba preta, hoje tão branca como a neve, e outras muitas personagens cubanas e estrangeiras, passaram por nosso reconto.

Gabo ganhou respeito e admiração perante meus olhos por sua capacidade para organizar a escola de forma meticulosa e sem esquecer um só detalhe. Eu o tinha suposto, por preconceito, um intelectual pleno de maravilhosa fantasia; ignorava quanto realismo tinha em sua mente.

Dezenas de acontecimentos dentro e fora de Cuba, em que ambos estivemos presentes, foram mencionados. Como acontecem coisas em dezenas de anos!

Duas horas para conversar, como é de supor, não bastaram. A reunião tinha começado às 11h35. Convidei-os para almoçar, algo que nunca fiz com visitante algum durante estes quase dois anos, pois não pensara nisso nunca. Compreendi que eu estava realmente de férias e lhos disse. Improvisei. Consegui resolver. Eles almoçaram o que quiseram, e por minha parte cumpri a dieta disciplinadamente, sem me sair uma polegada, não para acrescentar anos à vida, senão produtividade às horas.

Mal eles chegaram, entregaram-me um pequeno e agradável presente, embrulhado em um papel de atraentes e vivas cores. Continha pequenos volumes, um bocado maiores, mas menos alongados do que um cartão postal. Cada um tinha entre 40 e 60 páginas, em letra pequenina mas legível. São os discursos pronunciados em Estocolmo, capital da Suécia, por cinco Prêmios Nobel de Literatura dos outorgados nos últimos 60 anos. “Para que tenhas material de leitura” —disse-me a Mercedes ao entregar-mo.

Pedi-lhes mais dados sobre o presente antes que ambos os dois fossem embora às cinco horas da tarde. “Passei as horas mais agradáveis desde que adoeci há quase dois anos” —disse-lhes sem hesitar. É o que senti.

“Haverá outras”, ―respondeu o Gabo.

Mas minha curiosidade não cessava. Enquanto caminhava, um bocado depois, pedi-lhe a um companheiro para trazer o obséquio. Consciente do ritmo com que tem mudado o mundo nas últimas décadas, perguntava-me: o quê pensaram alguns daqueles brilhantes escritores que viveram antes desta época turbulenta e incerta da humanidade?

Os cinco Prêmios Nobel escolhidos na pequena coleção de discursos que tomara possam ler um dia os nossos compatriotas, por ordem cronológica, foram:

William Faulkner (1949)

Pablo Neruda (1971)

Gabriel García Márquez (1982)

John Maxwell Coetzee (2003)

Doris Lessing (2007)

O Gabo não gostava de proferir discursos. Passou meses à procura de dados —lembro-me disso—, angustiado pelas palavras que devia pronunciar para receber o Prêmio. A mesma coisa lhe aconteceu com o breve discurso que devia dirigir no jantar que lhe ofereceram depois do Prêmio. Se esse tivesse sido seu ofício, com certeza que o Gabo teria morrido de um infarte.

Não deve se esquecer que o Nobel é outorgado na capital de um país que não tem sofrido os estragos de uma guerra em mais de 150 anos, regido por uma monarquia constitucional e governado por um partido social-democrata onde um homem tão nobre como Olof Palme foi assassinado por seu espírito solidário com os países pobres do mundo. Não era fácil a missão que o Gabo devia cumprir.

Nada Neruda, militante do Partido Comunista, quem o recebe nos dias gloriosos de Salvador Allende, quando o fascismo tentava se apoderar do Chile, e a Gabriel García Márquez, genial e prestigiosa pena de nossa época.

Não é preciso dizer como pensava o Gabo. Basta transcrever simplesmente os parágrafos finais do seu discurso, uma jóia da prosa, ao receber o Prêmio Nobel a 10 de dezembro de 1982, enquanto Cuba, digna e heróica, resistia o bloqueio ianque.

“Um dia como o de hoje, meu mestre William Faulkner disse neste lugar: ‘Nego-me a admitir o final do homem’” —afirmou.

“Não me sentiria digno de ocupar este sítio que foi dele se não tivesse a consciência plena de que por primeira vez desde as origens da humanidade, o desastre colossal que ele se negava a admitir há 32 anos é agora nada mais do que uma simples possibilidade científica. Perante esta realidade inverossímil que através de todo o tempo humano deveu de parecer uma utopia, os inventores de fábulas que todo o acreditamos nos sentimos com o direito de crer que ainda não é tarde demais para começar a criação da utopia contrária.

“Uma nova e avassaladora utopia da vida, onde ninguém possa decidir por outros até na forma de morrer, onde realmente seja certo o amor e seja possível a felicidade, e onde as estirpes condenadas a cem anos de solidão tenham finalmente e para sempre uma segunda oportunidade sobre a terra.”

Fidel Castro Ruz

Fonte: ACN - Agência Cubana de Notícias

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Uma visâo sobre Cuba

Uma visão sobre Cuba






Participei de um grupo de mineiros que esteve em Cuba do dia 20 de janeiro a 5 de fevereiro de 2008, nas Brigadas de Solidariedade. A carta renuncia de Fidel e os comentários da imprensa e das diversas pessoas que encontro, me levaram a escrever este texto, considerando o que vivi, vi, ouvi, observei e estudei.

Como todas (os) brasileiras (os), influenciadas (o) pela intensa propaganda, fomos a Cuba procurando a miséria e a ditadura. E, no nosso subconsciente, o povo deveria ser muito passivo e muito bronco, para manter uma ditadura de 49 anos.

E o que encontramos? Tivemos um choque pois encontramos um povo com um nível cultural bem acima da media do povo brasileiro. Tivemos liberdade de ir e vir, de bisbilhotar, entrar em todos os lugares e de conversar com todos. Alias, ate de forma muito invasiva, entravamos nas casas, nas escolas infantis, nos n museus. Procurávamos crianças e adultos de pés no chão, mendigando, dormindo debaixo de marquises, casas miseráveis. Só então entendemos a verdade do outdoor próximo ao aeroporto: “Esta noite, 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma e cubana”. Outro: “A cada ano, 80 mil crianças morrem vitimas de doenças evitáveis. Nenhuma delas e cubana”. E nos sabemos que milhares delas são da 8a. economia do mundo, a brasileira.

Além disto, chegamos um dia apos o encerramento do processo eleitoral, com a eleição do Parlamento, eleição não obrigatória que teve 95% de participação. E, para nossa surpresa, ficamos sabendo que o Partido Comunista Cubano não e uma organização eleitoral e portanto não se apresenta nas eleições e nem postula candidatos. Os candidatos são tirados diretamente, em assembléias publicas nas diversas formas de organizações existentes: do bairro, das mulheres, jovens, estudantes, campesinas. Que depois vão se reunindo por região, estado e finalmente, no nível nacional. Estes representantes nacionais, elegem o presidente e o vice. Todos os representantes podem ser destituíveis, a qualquer momento, pelas suas bases, caso não estejam respondendo ao projeto de sua eleição. E vimos como 46% dos eleitos são mulheres (no Brasil conseguimos as cotas de 30% para disputar e não eleitas). As estruturas de funcionamento são mais próximas de uma democracia direta. Parece-me um contra-senso chamar este processo de ditadura. Seguramente, e diferente da democracia burguesa, onde apos colocar o voto na urna finda a obrigação do eleitor. Os críticos valem-se da mágica de que “o que e bom para os EUA e bom para o resto do mundo”. Desconhecem, e não querem que seja conhecido, outro processo de participação popular, como o Cubano.

Tentando também entender o que víamos, um povo simples e culto, simpático e sem stress, procuramos estatísticas: alfabetização de 99,8% (no Brasil 86,30%) e que de 1959 a 2007, a quantidade de escolas passou de 7.679 a 12.717, os professores passaram de 22.800 para 258.000, com uma população em torno de 11 milhões de habitantes sendo o pais que o maior índice de professores por habitante do mundo. No IDH 2007 da ONU, o Brasil comemorou o fato de figurar em 70º lugar. Cuba figura em 51º lugar. O país conta com 70.594 médicos para uma população de 11,2 milhões (1 médico para 160 habitantes); índice de mortalidade infantil de 5,3 para cada 1.000 nascidos vivos (nos EUA são 7 e, no Brasil, 27); 800 mil diplomados em 67 universidades gratuitas, nas quais ingressam, por ano, 606 mil estudantes. Dados da Unesco em 2002 relatavam que 98% das residências cubanas possuíam instalações sanitárias adequadas (contra 75% das brasileiras). Dados da CIA, central de inteligência americana, estimava em 1,9% o desemprego em Cuba. No Brasil , segundo a mesma fonte, o índice era de 9,6% no ano de 2007. E que, a expectativa de vida ao nascer na ilha era de 77,41 anos e no Brasil era de 71,9 anos.

Esses números a despeito de ser uma pequena ilha, ao alcance de um tiro de canhão disparado de Miami e que resistiu a uma tentativa de invasão norte-americana (Baía dos Porcos, 1961) e a várias outras de assassinato de Fidel Castro e ações terroristas orquestradas pela CIA, ter um bloqueio econômico e político apenas rompido por países com autonomia como Venezuela, Bolívia, China e alguns paises da Europa.

E nos, com a arrogância de quem tem toda a informações pela imprensa livre brasileira (sic) continuávamos procurando outros sinais de desmandos: e os presos políticos?

De fato, há pessoas detidas, mas não pelo que pensam, mas pelo que fazem, como o de organizar grupos financiados pela embaixada dos EUA. Fora isso, todas as personalidades importantes da dissidência estão em liberdade e tem suas atividades políticas como Martha Beatriz Roque, Vladimiro Roca e Oswaldo Paya. E importante ressaltar que Cuba sofreu intensamente com o terrorismo nos últimos 40 anos, perfazendo mais de 3500 mortos. E, fica fácil mostrar a postura dos EUA com documentos oficiais, confirmando o financiamento de cubanos exilados para promover ações contra o governo cubano. O museu na Praia Giron (ou Baia dos Porcos), e um monumento de denuncia as ações terroristas, iniciadas desde 1961 quando o se rompe às relações e se instaura o bloqueio. Em 1963 o democrata Kennedy, aprova o plano de manter todas as pressões possíveis com o fim de perpetrar um golpe de Estado. E, sabemos quantas vezes, ao longo destes anos, tentaram matar Fidel Castro, obrigando-o a sequer ter uma residência fixa. Nos anos 90, a Lei Torricelli reforça o bloqueio econômico e, na seção 1705 diz que “Os Estados Unidos proporcionara assistência governamental adequada para apoiar a indivíduos e organizações não governamentais que promovam uma mudança democrática não violenta em Cuba”. Esta lei vai ser reforçada na administração de Clinton, pela lei Helms-Burton quando diz: “O presidente dos EUA esta autorizado a proporcionar assistência e oferecer todo tipo de apoio a indivíduos e organizações não governamentais independentes com vistas a construir uma democracia em Cuba”. E, o governo Bush não podia ficar atrás e, em 2004 aprovou um financiamento de 36 milhões de dólares para financiar a oposição a Cuba, em 2005 mais 14,4 milhões de dólares, em 2006 mais 31 milhões de dólares alem do financiamento de 24 milhões de dólares para a Radio e TV Marti, transmitida dos EUA para Cuba neste caso, infligindo a legislação internacional que proíbe este tipo de transmissão. Estes valores são fantásticos -105,4 milhões em apenas 3 anos.

Outra dificuldade e entender o funcionamento da economia cubana. Logo apos a revolução faz-se uma ampla reforma agrária, instalando uma via muito particular no campo, onde de um lado manteve alguns proprietários privados, como o de tabaco, e de outro, constituindo cooperativas voluntárias ao lado das propriedades estatais. O setor serviços foi todo ele estatizado. Apos os anos 90, com as dificuldades dada pela intensificação do bloqueio e com o fim da União Soviética, foi feita uma grande abertura para entrada do capital internacional no setor turismo, sem desconhecer o risco que isto poderia acarretar. O setor de transformação, inicialmente todo ele estatizado, hoje tem tido parcerias.

Com o nosso olhar de classe media, que podemos fazer uma viagem internacional, nos chocava alguns problemas com a vida cotidiana como habitações pobres, transporte publico precário, limitações econômicas para se ter ate papel higiênico (isto deixava a todos pensando, pobrezinho dos cubanos). Isso é verdadeiro, alem destes problemas da vida cotidiana, vários outros nos foram apresentados pelo secretario do partido comunista, que fez uma palestra para os brigadistas: o aumento da prostituição, dos pequenos delitos, da corrupção e da desigualdade social. Quando se investiu no turismo e posteriormente, com a criação da moeda turística (o peso conversível), cresce de um lado a entrada de divisas e de outro, possibilitou um rendimento, para os trabalhadores destes setores, acima do restante da população, ocasionando um aumento da desigualdade social. Afirma ele que vivem numa quádrupla ilha: geográfica; única nação socialista do Ocidente; órfã de sua parceria com a União Soviética e bloqueada há mais de 40 anos pelo governo dos EUA. E buscando respostas coletivas para estes problemas, desencadearam um processo interno de críticas e sugestões à Revolução, através das organizações de massa e dos setores profissionais. São mais de 1 milhão de sugestões que pretendem trabalhar, mas mantendo os princípios do socialismo: solidariedade e não a competitividade, o coletivo e não o individualismo.

Mas, para nos brasileiros de classe media (somos quantos? Depende da estatística mas varia de 5 a 10%), que podemos fazer uma viagem internacional e que não conhecemos a realidade dos 90% do povo brasileiro que não tem como pagar um plano de saúde, que tem pouca alimentação, que fica com os restos do desperdício dos 10%, com uma educação precária, e difícil entender a lógica econômica de uma sociedade voltada para os 100% da população. E ficamos horrorizados por eles não terem papel higiênico. Mas não nos deixam horrorizados que tenham bibliotecas e livrarias em toda escola e em toda cidadezinha. Ou que tenham acesso à saúde e educação da melhor qualidade, habitação com saneamento e aparelhos eletrodomésticos novos para economizar energia. Ou, que não tenhamos encontrado erosão por todos os lugares que andamos.

E a busca do conhecimento? E as escolas? Como e possível ver os círculos infantis, crianças de 1 a 4 anos, assentadas ouvindo historias, sem a professora estar gritando, mandando ficarem quietas? E ver os portões destas escolas abertas e as crianças não fugirem? Como e possível não ter o stress que, temos em nossas escolas? E, conversando com as crianças do pré-escolar e do escolar (5 a 11 anos), ficávamos surpresas com as perguntas cheias de inteligência e informação sobre nosso pais, que faziam aquelas pequenas crianças? E, como nos permitiam entrar nas salas de aulas, fotografar, bisbilhotar as bibliotecas onde encontrávamos livros de Marx a Lênin, de Jorge Amado, Machado de Assis, a Shakespeare. Imagine isto aqui no Brasil? Ficávamos encantadas. Eu, como professora da UFMG, tida como uma das melhores do Brasil, me encantava com aquelas bibliotecas. E as livrarias? Na pequenina Caimito onde ficava o acampamento, literalmente invadimos uma livraria, comprando tudo quanto e tipo de livro, pela sua qualidade e pelo preço (comprei um livro do Boaventura de Souza Santos por 8 pesos cubanos – que equivale mais ou menos a R$ 0,50 -, outro do Che Guevara sobre Economia Política de 397 págs. por 22 pesos cubanos, portanto em torno de R$ 1,40 (e dai para frente).

E o investimento na potencialidade do ser humano não pára ai. O desenvolvimento das artes – dança, pintura, musica, poesia, desportos – e encontrado em cada escola, em cada esquina, em cada cidade.

E claro que também tivemos as frustrações no contato com algumas pessoas, especialmente em Havana onde impera o espírito da cidade turística, onde se busca sempre ganhar alguma coisa, passar a perna, apenas diferenciando pela intensidade dos problemas, com as nossas cidades turísticas como Rio de Janeiro. Só que e mais ingênuo, meio estilo anos 60. De todo jeito, frustrante. Também nos entristeceu encontrar tantos cubanos sonhando em sair da ilha, acreditando, por exemplo, que o Brasil é um paraíso, visão que tem através das telenovelas (que todos assistem). E assim, uma sociedade muito diferente que nos estimula e atrae. Alias, nada melhor para expressar isto do que a crônica do Clovis Rossi (O “pop star” se aposenta) do dia 20 de fevereiro na Folha de São Paulo contando o episodio de um encontro do GATT, que contava com a presença dos chefes de estados, diferentes autoridades mundiais e jornalistas de todo o mundo. Onde o burburinho na sala do encontro e na sala dos jornalistas era enorme, com a atenção dispersa. Quando se anunciou Fidel Castro houve um grande burburinho, com todos procurando o melhor lugar para assisti-lo e “ao terminar, uma chuva de aplausos, inclusive de seus pares, 101% dos quais não tinham nem nunca tiveram nenhum parentesco e/ou simpatia com o comunismo. Difícil entender o que aconteceu ali.”

Para terminar, quero colocar uma idéia desenvolvida na mesa redonda integrada por vários cientistas cubanos e sintetizada pelo jornalista Jesus Rodrigues Diaz, falando sobre o potencial no desenvolvimento do conhecimento quando ele se da de forma coletiva. E que no capitalismo existe uma grande contradição entre o caráter social da produção e o caráter privado da apropriação. Dai, a reação do capitalismo ao papel crescente do conhecimento na economia e a busca da privatização do conhecimento, principalmente através da propriedade intelectual, das barreiras regulatórias e do roubo dos cérebros.

“Temos que insistir também que, quando falamos do Potencial Humano criado pela revolução, não nos referimos exclusivamente à quantidade de conhecimentos técnicos incorporados em nossa população. Mais importante ainda é a semeadura de valores éticos, de atitudes ante a vida. Na sociedade do conhecimento faz falta um cidadão com vocação de aprender e de criar, e de levar seus conhecimentos aos demais seres humanos. Os conhecimentos técnicos nos podem dizer como se trabalha, porem são os valores os que nos fazem compreender porque se trabalha e deles tiramos as motivações e as energias para seguir adiante.

Que se passa agora se os conhecimentos se voltem ao fator mais importante da produção, inclusive os bens de capital? Não e difícil de prever. A resposta do capitalismo e a intenção de converter também o conhecimento em Propriedade Privada. Porem, a boa noticia e que isto não vai funcionar. O conhecimento não e igual ao Capital. Esta nas pessoas e não se pode facilmente privatizar. O conhecimento requer circulação e intercambio amplo. As leis da propriedade intelectual inibem este intercambio. O conhecimento e validado pela sua aplicação social, não pela sua venda. O uso amplo dos produtos do conhecimento e o que os potencializa”, termina o jornalista. Esta e a grande limitação do raciocínio capitalista em entender a potencialidade da criação coletiva. Ignoram que a criação humana coletiva tem muito mais possibilidades do que as leituras positivistas do conhecimento.

O maior feito desta pequenina ilha, com um povo cheio de dignidade e coragem, terá sido o de mostrar ao mundo que e possível construir uma sociedade baseada no ser humano e não na mercadoria e na acumulação de capital. E isto ameaça o mundo capitalista, e é rejeitada pela imprensa burguesa e pelos setores médios que querem impor as condições de suas vidas para a totalidade do mundo. Mas, Cuba não esta só. Existe hoje uma rede internacional de solidariedade ocasionada pelos médicos e professores cubanos em mais de 100 países, pela Operação Milagros, pelas brigadas de solidariedade e por todos aqueles que acreditam que Um Outro Mundo é Possível e que lutam pela sua construção.

Por: Dirlene Marques

Dirlene Marques: Economista, professora da UFMG, coordenadora do Fórum Social Mineiro